Janette Kenny

Paixão cruel - Três semanas em atenas


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conseguisse tranquilizar-se. A lancha zarpou a toda a velocidade, elevando-se sobre a água. Em pânico, Kira encostou a cara no peito masculino, sentindo-se novamente presa num pesadelo.

      – Olha para mim. Mon Dieu, olha para mim – insistiu ele.

      Kira encontrou os olhos penetrantes que a observavam, consciente de que os seus reflectiam todo o medo que sentia, mas sem se preocupar com o que André pensava dela.

      – Odeio-te – sussurrou ela.

      – Não esperaria menos de ti – disse ele, baixando a cabeça.

      Kira soube que ia beijá-la e que devia afastá-lo ou, pelo menos, virar a cabeça, mas não o fez. Porque queria que a beijasse com um desespero impróprio dela.

      A boca masculina fechou-se sobre a dela com uma paixão que devorou as suas últimas renitências. Ela tremeu violentamente e recusou-se a reagir durante uma décima de segundo, mas, então, o beijo mudou, tornou-se mais terno, e um tremor muito diferente ao provocado pelo medo arrebatou-lhe toda a capacidade de um pensamento lógico.

      Kira apoiou a palma da mão no peito masculino e sentiu os batimentos do coração de André sob a pele, enquanto ele lhe acariciava as costas com os dedos num baile erótico mais antigo do que o tempo. Sem conseguir nem querer reprimir-se, ela beijou-o com a mesma paixão.

      Ele interrompeu o beijo demasiado cedo, quando ela estava prestes a suplicar que acariciasse todo o seu corpo, o peito, o sexo…

      – Chegámos ao Sans Doute, ma chérie – anunciou ele. – Aqui estarás a salvo.

      Que grande mentira! Desde que ela continuasse a render-se à mais leve das suas carícias, estava em perigo mortal de perder a sua alma e o seu coração com aquele misterioso pirata das Caraíbas.

      André orgulhava-se do controlo rigoroso que tinha sobre si próprio tanto nos negócios como na cama, mas beijar Kira fora um erro. Fizera-o para a ajudar a esquecer o pânico que se apoderara dela de forma tão irracional, mas a verdade era que ele estivera prestes a perder o controlo. Se não tivesse interrompido o beijo, quem sabia até onde teria podido chegar.

      E ela era uma sedutora, uma bruxa marinha e agora era dele.

      Ajudou-a a subir para a coberta do iate, consciente do tremor do seu corpo e da força com que lhe segurava a mão e sentiu o repentino impulso de a abraçar, de a proteger, de fazer amor com ela até dissipar todos os seus receios.

      Como detestava aquele desejo que ameaçava fazê-lo perder o controlo por ela! E como odiava o controlo que Bellamy tinha na sua vida!

      Sem a soltar, conduziu até à sala principal do iate, decorado em cetim de tons dourados e, dali, subiram pela escada em espiral até à sala de observação. Teve-a sempre ligeiramente presa pelas costas, com a mão apoiada na curva da cintura, por um lado, porque gostava do contacto e, por outro, porque sabia que a inquietava e a excitava. E era assim que a queria, excitada e ansiosa por ele.

      André tencionava levar o seu tempo. Era importante que ela o desejasse, que ele ganhasse a sua confiança.

      O que não seria difícil, tendo em conta que fora educada para dar prazer aos homens. Sim, antes de tudo aquilo acabar, Kira suplicaria que a levasse para a cama e fizesse amor com ela.

      Era inevitável e Bellamy tinha de ter consciência disso. Então, porque é que o seu mais acérrimo inimigo e rival não lhe telefonara?

      – Fica confortável – disse ele, dirigindo-se para o bar. – Queres beber alguma coisa antes de zarparmos?

      – Água, por favor – disse ela.

      Kira sentara-se no sofá circular que dominava a sala, com as pernas dobradas, e pusera uma almofada enorme sobre a barriga. André percebeu que estava ainda mais pálida do que antes e isso preocupou-o.

      – Sentes-te bem?

      – Só tenho sede – garantiu ela, embora o seu olhar expressasse receio e inquietação. – Já passou muito tempo desde a última vez que bebi alguma coisa e não queria desidratar.

      André franziu o sobrolho. Era outra táctica para ganhar a sua compreensão? Para despertar os seus remorsos por a ter levado para a ilha contra a sua vontade? Com irritação, ele serviu-se de um copo de água.

      Depois de lhe entregar o copo, André preparou um daiquiri de rum com umas gotas de lima. Imagens de Kira a fazer amor com Bellamy passaram pela sua mente e deixaram uma onda de raiva amarga no seu caminho.

      Em vez de saborear o sabor forte e doce a rum, André sentiu o sabor amargo da vingança na língua. Kira tentava fazer-se passar por uma ingénua, mas não era inocente. Não, não conseguiria enganá-lo. Observou a sua expressão preocupada quando achava que ninguém olhava para ela. Era como se tivesse algum segredo.

      – Tens internet na ilha? – perguntou ela, depois de beber um gole de água.

      – Sim, tenho uma ligação privada no meu escritório – disse ele, atravessando a sala com o copo na mão e olhando para ela com desconfiança. – Porquê? Pensas que Peter virá salvar-te da situação que criaram? Ou precisas das suas instruções para me espiar melhor?

      As faces femininas coraram de raiva.

      – Preciso de gerir o hotel.

      – Oh, referes-te ao meu hotel.

      – És o accionista maioritário, mas o Château será sempre meu.

      Oh, estava tão errada!, pensou ele, mas não disse nada. Não era seu costume gozar com alguém em situação de fraqueza. As olheiras sob os olhos mostravam que estava muito cansada, por muito que tentasse escondê-lo enquanto defendia o Château com unhas e dentes.

      André bebeu o daiquiri e, depois de deixar o copo no balcão com um golpe seco, parou à frente dela sem esconder a sua irritação, que aumentou ainda mais ao vê-la erguer o queixo e olhar para ele com os olhos esbugalhados, mas sem se deixar intimidar. André apoiou o joelho no sofá e as mãos também.

      – O Château Mystique é meu e tu também. Não o duvides, estão os dois sob o meu controlo.

      – És um selvagem.

      – Não me digas que não sabias que nas minhas veias tenho sangue de pirata? – perguntou ele, ao mesmo tempo que lhe tirava a almofada das mãos e apoiava a mão na barriga feminina, tocando-lhe nos seios com os dedos.

      Kira, com os olhos muito abertos e as pupilas dilatadas, conteve uma exclamação. Nos seus olhos não havia medo, mas desejo, um desejo tão intenso como o seu. Não, ela não o receava. Desejava-o tanto como ele a ela.

      – O que foi? – continuou ele, com um sorriso devastador. – Não tens nada para dizer?

      – Nada que tu consigas acreditar – declarou ela.

      – Não te faças de inocente comigo – disse ele.

      Endireitou-se novamente e atravessou a sala. Saiu para a coberta consciente de que, se continuasse perto dela, não conseguiria evitar estendê-la sobre o sofá e demonstrar-lhe como ela desejava que a possuísse. Render-se-ia facilmente a ele.

      Mas aquele não era o momento. Da coberta, observou o horizonte em silêncio durante alguns minutos e, depois, foi para o quarto principal, de onde fez uma chamada.

      – Bellamy continua no Château? – perguntou, assim que o seu interlocutor atendeu o telefone.

      – Não, saiu uma hora depois de o senhor sair.

      – Voltou para a Florida?

      – Não, foi para a Califórnia inaugurar um novo hotel – informou-o o homem. – Deseja que continue com a vigilância?

      – Sim. Quero saber tudo: com quem fala, o que faz, com quem se relaciona.

      – Está bem – disse o detective.

      André desligou o telefone e analisou a