Carol Marinelli

O filho inesperado do xeque


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com que se tratavam uns aos outros na casa Devereux.

      – Senta-te, filho.

      Aceitou o convite, embora até tivesse preferido ficar em pé. Estava convencido de que iria receber uma reprimenda. Tinha dezasseis anos, estava há quase um em Nova Iorque, e ele e Ethan tinham descoberto como arranjar bilhetes de identidade falsos de adultos. E as raparigas.

      – Não há um modo fácil de dizer-te isto – começou Jobe por dizer, depois de limpar a garganta. – Khalid, tens de ligar já para tua casa.

      – Passa-se alguma coisa com os gémeos?

      A sua mãe estava quase a dar à luz.

      – Não. A tua mãe deu à luz esta manhã, mas houve complicações. Não conseguiram salvá-la, Khalid. Lamento muito ter de dizer-te isto, mas a tua mãe morreu.

      Foi como se todo o oxigénio tivesse desaparecido da sala. E ele, apesar de esforçar-se para não o mostrar, sentiu que não conseguia respirar. Não podia ser. A sua mãe era uma mulher tão viva que, ao contrário do seu pai, estava sempre a rir e amava a vida… A rainha Dalila era a razão pela qual ele estava em Nova Iorque.

      – Liga para casa – repetiu Jobe. – Diz ao teu pai que podemos ir agora mesmo ao aeroporto e que eu te acompanharei até Al-Zahan.

      – Não – respondeu ele. Jobe não percebia que ele teria de chegar a bordo do avião real. – Mas obrigado pela oferta.

      – Khalid – Jobe suspirou, exasperado, – permite-te sofrer.

      – Com todo o respeito, senhor, sei bem o que me é permitido. Vou ligar ao rei agora mesmo.

      Khalid esperava que ele o deixasse sozinho, mas, em vez disso, Jobe fez algo que nunca teria esperado: apoiou os cotovelos na mesa de mogno e escondeu a cara entre as mãos. Porque tinha sido duro para ele ter de dar-lhe a notícia e sentia a morte da sua mãe e a dor que ia sofrer Hussain, o seu irmão de dois anos, e os gémeos recém-nascidos.

      Então, ouviu a voz do seu pai.

      – Alab – disse, chamando-lhe pai. Um erro.

      – Antes de ser teu pai, sou teu rei – recordou-lhe. – Nunca o esqueças, nem sequer por um instante, e sobretudo nos tempos difíceis.

      – É verdade? A mãe morreu?

      O rei confirmou-lhe a notícia, mas também lhe disse que encontrava consolo no facto de se ter salvo outro herdeiro.

      – Celebramos esta manhã ter vindo ao mundo outro herdeiro ao trono de Al-Zahan.

      – Ela teve um menino e uma menina?

      – Exato.

      – Chegou a vê-los? Pôde tê-los nos seus braços? Ela sabia o que tinha tido?

      – Khalid, que tipo de pergunta é essa? Eu não estava com ela.

      Que nem sequer se tivesse dado ao trabalho de averiguar aquilo deprimiu-o. E um estremecimento de agonia soltou-se dos seus lábios.

      – Não vais chorar – avisou-o o pai. – És um príncipe, não uma princesa. As pessoas precisam de ver força, e não de verem o seu futuro rei a portar-se como se fosse um camponês que geme e chora.

      Jobe aproximou-se dele e pôs uma mão no seu ombro. Desconhecia o que se estava a dizer, já que a conversa era em árabe, mas a sua mão continuou ali pousada já depois do telefonema ter terminado.

      – Lamento, filho. Mas vais superá-lo. O Abe e o Ethan também perderam a mãe.

      – Mas eles tinham-no a si.

      – Tu também me tens, Khalid.

      E ali, naquele escritório, chorou pela sua mãe.

      Durante algum tempo andou assustado, desesperado e triste, e Jobe permitiu-lho. Ele foi a única pessoa que o viu chorar porque as lágrimas não lhe eram permitidas. Nem quando era uma criança.

      Mas quando o avião real chegou para levá-lo, a máscara estava de novo no seu lugar e nunca mais voltou a deixar de o estar.

      – Khalid?

      Não tinha ouvido Ethan entrar, mas voltou-se para dar-lhe as condolências. Ele era seu sócio nos negócios e um amigo, embora não se pudesse dizer que fossem muito unidos.

      Ele não estava muito unido a ninguém.

      – Obrigado por vires, Khalid.

      – Nunca teria deixado de comparecer ao funeral de Jobe.

      – Refiro-me a esta noite. Agradeço-te. Quanto tempo vais ficar?

      – Até depois de amanhã.

      – Tens de partir tão depressa?

      – Precisam sempre de mim em casa.

      – Bom, fico contente por teres vindo.

      – Deixa-te de simpatias e vai direto ao assunto. Que se passa?

      – Muita coisa – admitiu Ethan. – E ninguém pode saber.

      – Já sabes que dos meus lábios nada sairá.

      A vida de Jobe Devereux tinha sido interessante, digamos, e a imprensa contara muitos detalhes. Os seus filhos, Abe e Ethan, já tinham visto de tudo.

      Ou assim pensavam.

      – Ele tinha uma conta da que não sabíamos nada.

      Khalid ouviu o relato de como Jobe tinha um fraco pelo jogo e pelas mulheres dos cabarés. Aparentemente, aqueles longos fins de semana de ausência nem sempre eram passados nos Hamptons. Muitas vezes ia diretamente para Las Vegas, a Cidade do Pecado.

      – Tinha dívidas?

      – Não, não há dívidas, mas não se tratava de algo ocasional. Tinha muitas mulheres e… um casamento de que não sabíamos nada.

      – Um casamento?

      – Entre o casamento com a sua primeira mulher e o casamento com a minha mãe, afinal esteve casado com uma tal de Brandy durante setenta e duas horas.

      – História antiga e sem importância – disse Khalid.

      – É possível, mas trata-se de uma história antiga que pode bem ressurgir manhã.

      – A reputação do Jobe está acima de tudo isso – respondeu Khalid, tranquilo, tentando acalmar aquelas águas turbulentas. – E a vossa, também. Se fosse algo recente, aí sim, poderia ser difícil de assumir para a sua companheira atual. Ele voltou para a Chantelle antes de morrer?

      – Na verdade não, mas estiveram juntos, de um modo intermitente, durante alguns anos.

      – Ethan, toda a gente tem um lado escuro – respondeu-lhe Khalid com calma. – E que o Jobe tivesse amantes, ou que estivesse casado por umas horas, não será uma grande surpresa. O Jobe levou uma vida intensa e todos sabemos como gostava das mulheres.

      – Das mulheres, sim – Ethan suspirou e Khalid viu como estava incomodado. Agora sim, ia ouvir a verdadeira razão pela qual lhe tinham pedido que viesse antes do funeral. – Durante os últimos quatro anos, o meu pai enviou uma soma mensal muito considerável a uma Aubrey Johnson.

      Isso sim, era uma surpresa.

      – O Jobe tinha uma aventura com um homem?

      E, naquela noite sombria, Ethan começou a rir.

      – Não, Khalid. O Jobe não era gay.

      – Mas Aubrey é um nome masculino.

      – Não. Digamos que é unissexo. Garantidamente, a Aubrey Johnson não é um homem.

      Ele entregou-lhe algumas fotos.

      Não, Aubrey não era um homem. Na verdade, parecia ser algo mais do que uma simples mulher.

      Aubrey Johnson