Carol Marinelli

O filho inesperado do xeque


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adorava Las Vegas e tinha vivido intensamente a cidade, mas agora mal saía da sua caravana, e nunca durante o dia.

      Tentou prolongar o café que estava a beber e, quando acabou, tomou o antibiótico e desceu as escadas para a área de cosmética. Distraiu-se a experimentar batons no dorso da mão, até que a empregada se aproximou para perguntar-lhe se podia ajudar.

      – Assim espero – Aubrey suspirou. – Na verdade, não sei o que estou a procurar. Não costumo maquilhar-me.

      Não era verdade porque, em cada noite que subia ao palco, usava uma espessa camada de maquilhagem, mas, se a sua amiga estava certa, a empregada iria oferecer-se para maquilhá-la. E assim foi.

      Mas Aubrey hesitou. Não lhe parecia correto.

      – Só me maquilho quando subo ao palco – admitiu.

      – Então, procura um look mais natural?

      – Sim, mas… – Aubrey respirou fundo. A empregada era mais ou menos da sua idade e, sem dúvida, esperava que ela comprasse algo para ganhar a sua comissão. – Na verdade não posso permitir-me comprar nada – admitiu.

      A jovem olhou-a por um momento e depois sorriu.

      – Pelo menos és sincera. De qualquer modo, deixa-me maquilhar-te. Com sorte, as pessoas virão espreitar e assim saímos as duas a ganhar – sentou-a num banquinho alto. – Onde vais? – perguntou. – A um funeral? – adivinhou, vendo-a vestida de negro.

      – Sim. Um amigo da família. É um evento de alto nível e não quero chamar as atenções.

      – Hoje deve ser o dia dos funerais. O de Jobe Devereux, o de… – interrompeu-se ao ver que Aubrey corava. – É a esse funeral que vais?

      Jobe pertencia à realeza de Nova Iorque e, quando Aubrey assentiu, a jovem soube exatamente o que ela ia enfrentar.

      – Então, vamos trabalhar. Ah, chamo-me Vanda.

      – Aubrey.

      Vanda tirou vários ferros de cabelo e alisou o ondulado cabelo loiro a Aubrey antes de analisar o seu rosto.

      – Tens uma estrutura óssea incrível.

      – Devias ver a minha mãe. Tinha umas maçãs do rosto maravilhosas.

      – Tinha?

      Aubrey não respondeu. A mãe fazia questão de não falar das suas mágoas e, mesmo estando longe de Las Vegas, preferiu não referir como o rosto da mãe tinha ficado marcado pelo fogo.

      – Bom… – prosseguiu Vanda enquanto trabalhava, – dizes que usas maquilhagem no palco. A que te dedicas?

      – Faço um pouco de tudo. Danço em alguns espetáculos, sou trapezista e…

      – Não posso!

      – Nada de glamouroso, acredita. Um pouco de tudo.

      Um pouco de tudo para evitar dedicar-se à profissão mais velha do mundo. E quando devia a renda, quando não tinha horas extras para fazer… mas a sua mãe precisava dos medicamentos. Ainda bem que tinha encontrado outro modo de pagar as contas a cada mês.

      O dinheiro de Jobe Devereux chegava pontualmente à sua conta e era também pontualmente que a sua generosa contribuição era gasta.

      Fizera-o acreditar que estava a estudar música e Jobe, que não sabia nada da sua mãe e que era um homem muito ocupado, nem investigara. O dinheiro, em vez de ir para os seus estudos, acabava em operações, contas da clínica, medicamentos, reabilitação, mais operações…

      Até a sua mãe pensava que era prostituta. Nunca lho tinha dito abertamente, claro, mas era Aubrey que pagava as contas e a mãe nunca lhe perguntara de onde vinha o dinheiro.

      Tivera várias ofertas, mas declinara-as todas. A verdade era que desconfiava dos homens. A sua mãe trabalhara como acompanhante e ela era o fruto desse trabalho, mas, quando a mãe começou a ter menos marcações, tornou-se difícil pagar as contas a cada mês.

      Até que Jobe apareceu na vida de Stella. Pela casa dela tinha passado um verdadeiro desfile de homens, o que a tornou cínica e receosa em tudo o que dizia respeito ao sexo. Apesar dos vestidos reduzidos e dos movimentos provocantes, nunca tinha sido beijada, e muito menos tudo o resto.

      – Não permitas que a história se repita – dissera-lhe Jobe.

      Na verdade, essa possibilidade aterrorizava-a, embora a necessidade começasse a tornar-se premente, já que Jobe tinha morrido e o dinheiro deixaria de chegar.

      Esse pensamento levou-a a fechar fortemente os olhos, o que não era boa ideia tendo em conta que lhe estavam a aplicar o eyeliner.

      – Um segundo – disse, e respirou fundo para tentar recompor-se.

      – Não te preocupes – respondeu Vanda. – Já está quase. Deixa-me só dar-te um retoque nos lábios.

      Aubrey abriu os olhos e descobriu que uma pequena multidão se tinha formado para presenciar a transformação. E era mesmo uma transformação.

      Vanda aproximou-lhe um espelho e Aubrey esbugalhou os olhos ao ver-se.

      – Estou…

      – Incrível – Vanda sorriu.

      – Não – respondeu Aubrey. Tinha de encontrar a palavra adequada. A maquilhagem era subtil e os seus olhos pareciam muito grandes e azuis. A boca, maquilhada num suave tom bege, projetava uma imagem doce, tão diferente do vermelho a que estava habituada. – Estou sofisticada.

      – Vais encaixar na perfeição – disse Vanda, olhando brevemente para o vestido barato que levava, mas quanto a isso não podia fazer nada. – Vou dar-te uma amostra de lápis de lábios para que possas retocar-te antes do serviço fúnebre.

      – Deixa, não precisas de fazer isso.

      – Já viste quantas clientes tenho agora? Espero que o dia te corra tão bem como parece que me vai correr a mim.

      Assim o esperava Aubrey porque, no fundo, estava aterrorizada.

      Havia uma multidão às portas e o controlo de segurança era férreo, mas isso não a deteve. Caminhou para a barreira e dirigiu-se a um agente de segurança.

      – O meu motorista deixou-me no local errado – tentou-o, mas o guarda lançou-lhe uma pergunta rápida.

      – Nome?

      – Aubrey – murmurou ela. – Aubrey Johnson.

      – Espere aqui.

      Não ia conseguir entrar. O seu nome não estaria na lista de convidados. Ainda assim estava habituada a entrar de penetra em concertos e coisas assim, e acalentava a esperança de conseguir contornar o segurança, ou de juntar-se a um grupo de convidados.

      Mas não ia ter tal sorte.

      O guarda falava pelo microfone com alguém e sabendo que não estava na lista, olhou em volta, tentando encontrar um ponto de onde, pelo menos, conseguisse ver o caixão. Queria dizer-lhe adeus. E não só em nome da sua mãe, mas também em seu nome.

      – Por aqui, menina Johnson.

      Ao ouvir o seu nome pestanejou várias vezes enquanto a fita de veludo era retirada. Devia ser um engano. Johnson era um apelido corrente.

      – Siga aquele grupo – disse-lhe o guarda.

      Aubrey assim fez. Subiu as escadas de pedra e assinou o livro de condolências antes de entrar, mantendo sempre a cabeça baixa, receando que o agente desse conta do seu erro.

      E foi assim que Khalid a viu pela primeira vez.

      Ele fora avisado de que uma das mulheres misteriosas já chegara e que estava à espera para assinar o livro de condolências. Ele examinou a fila, passou por ela duas vezes sem a ver, até que por fim um homem se afastou e ele a avistou.

      Pelo que tinha ouvido falar sobre