Carol Marinelli

O filho inesperado do xeque


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uma malha vermelha de lantejoulas.

      – Quantos anos tem? – perguntou Khalid, com um tom de desilusão na voz. Jobe tinha setenta e quatro anos.

      – Vinte e dois. É dançarina.

      – Imagino que não te refiras a dançarina num salão de baile.

      A imagem seguinte respondeu à sua pergunta. Aparecia junto a um grupo de mulheres com um vestido muito reduzido e muito revelador. E, novamente, com muita maquilhagem.

      – E é trapezista – acrescentou Ethan enquanto Khalid continuava a ver as fotos. – Embora não muito boa. A menina Johnson vive num parque de caravanas e é frequentadora habitual das mesas de jogo. Quando não está a atuar, parece que ela e o meu pai… – não conseguiu terminar. – Mal tinha dezoito anos quando começaram os pagamentos.

      Em que raios estaria o Jobe a pensar?

      Khalid não conseguia acreditar que o homem que tanto admirava tivesse mantido uma relação com alguém tão jovem.

      Não. Não podia aceitar algo assim de Jobe.

      – Poderá haver outra explicação?

      – Se há, estamos a fazer tudo o que é possível para a encontrar – Ethan moveu a cabeça. – Mas não aparece.

      – Não poderia ser filha dele? – insistiu Khalid, reticente e a pensar o pior.

      – Não. O meu pai era um homem generoso e, se soubesse que ela era sua filha, nunca teria permitido que estivesse a viver num parque de caravanas. E, se o dinheiro fosse por uma qualquer razão benevolente, tinha fideicomissos e colaborava com organizações de beneficência. Mas os pagamentos à menina Johnson saíram de uma conta oculta, que ele não queria que alguém soubesse.

      – Ainda bem que ficaste a saber antes que se tornasse público.

      – Se houver algum escândalo, eu e o Abe tratamos do assunto, mas não queremos que se saiba amanhã no funeral. Queremos que o nosso pai tenha uma despedida digna.

      – Claro.

      – Comunicámos os nomes destas mulheres aos seguranças para que as mantenham afastadas de…

      – Não, não – interrompeu-o Khalid. – Vocês têm de as deixar entrar no funeral.

      – De modo algum. Não vamos transformar a sua despedida num espetáculo de Vegas.

      – Ethan, pensava que me tinhas feito vir cá para pedir-me conselhos.

      – Sim, mas…

      – Queres armar uma cena com as câmaras fora do teu controle?

      – Claro que não.

      – Então, acrescenta essas mulheres à lista de convidados. Se chegarem, põe os seguranças a vigiá-las. Eu também farei com que os meus estejam atentos. Vocês foquem-se em despedirem-se do vosso pai e não te esqueças que, se alguma aparecer, será para apresentar os seus respeitos. E isso não se nega a ninguém.

      – Não – Ethan suspirou.

      – E deverás convidá-las para a homenagem privada.

      – Não! Isso é apenas para a família e para os amigos próximos.

      – Não deveria precisar recordar-te que deves manter perto os teus inimigos, Ethan.

      – E arriscar-me a que tudo acabe por tornar-se num circo? – explodiu Ethan, mas sabia que Khalid nunca dava um conselho sem refletir, por isso acabou por assentir. – Falarei com o Abe.

      – Tudo se esclarecerá – tranquilizou-o Khalid. – É possível que o teu pai guardasse alguns segredos, mas era um bom homem.

      – Eu sei. Obrigado por estares aqui. Para o meu pai significaria muito.

      – O teu pai significava muito para mim.

      E continuaram a falar dos detalhes do que ia acontecer no dia seguinte. O título de príncipe de Khalid tinha sido suprimido do serviço por seu expresso desejo.

      – Tens a certeza disso? – insistiu Ethan quando Khalid se preparava para retirar-se.

      – Completamente. Foi uma das melhores coisas do tempo que passei aqui – admitiu Khalid. – Ninguém me tratava como príncipe ou como herdeiro da coroa. Aqui era apenas o Khalid. Amanhã deves focar-te em recordar o teu pai. Eu ocupo-me dos problemas que possam surgir.

      Ethan assentiu agradecido e ambos saíram do escritório.

      – E tu, Khalid?

      – Eu o quê?

      – Se toda a gente tem um lado escuro, qual é o teu?

      – Não esperarás realmente que te responda a essa pergunta, pois não? Claro que não, porque na verdade ninguém conhecia Khalid.

      A imprensa descrevia-o como um homem que gostava de brincar com as mulheres, mas nada mais longe da realidade: ele não brincava.

      A nada.

      As suas emoções estavam sempre sob estrito controle e não permitia que ninguém se aproximasse, nem sequer na cama.

      Particularmente na cama.

      Tinha tomado a decisão de não ter um harém. Detestava ver como a sua mãe sofria quando o seu pai visitava o harém. E como depois a acusava, quando nascia outra criança de uma das amantes, dizendo que a culpa por não conseguir dar-lhe outro herdeiro varão era dela.

      As crianças assim nascidas não tinham o mesmo estatuto dos filhos do casamento, nem eram considerados da família. Ele não queria comportar-se assim, por isso tinha recusado o harém. Mas em Nova Iorque saía com mulheres sofisticadas e experientes que aceitavam a ausência de ternura fingida.

      Era apenas sexo.

      A sua absoluta ausência de afeto pagava-a com diamantes, presentes e, às vezes, até com dinheiro puro e duro. Naquela noite, levava uma boa maquia no bolso.

      Capítulo 2

      Nova Iorque, a Cidade dos Sonhos. E para Aubrey Johnson, a cidade do que poderia ter sido.

      Oxalá estivesse ali noutras circunstâncias. Oxalá tivesse posto os pés em Manhattan para estudar música como sempre sonhara, mas estava ali para dizer adeus ao homem que lhe dera uma oportunidade.

      Uma oportunidade que ela não tinha aproveitado.

      O dia mal acabava de começar e já estava cansada. Sofrera uma infeção num ouvido e o voo de Las Vegas durara toda a noite, o que não tinha ajudado muito.

      O funeral seria ao meio-dia e, embora fosse um evento íntimo e só para ilustres, era-lhe indiferente que não tivesse sido convidada. Sabia alguns truques e tentaria entrar às escondidas, mas, se não conseguisse, apresentaria o seu respeito a uma distância conveniente.

      Parecia-lhe importante estar ali.

      Na casa de banho do aeroporto, despiu as velhas calças de ganga e o top e substituí-os por um vestido preto de cocktail que uma amiga lhe emprestara. Ficava-lhe um pouco grande, mas disfarçaria com o xaile.

      Foi de comboio e depois apanhou o metro. Seguindo as instruções que lhe dera a amiga, deu por si em Manhattan, numa rua muito concorrida num soalheiro dia de primavera.

      Por um momento ficou com a cabeça caída para trás a contemplar ensimesmada os altos edifícios, mas depressa se viu atropelada por um mar de gente que caminhava com rapidez. Entrou nuns grandes armazéns e subiu para o segundo piso para beber um café, que bem o merecia. Mas o seu orçamento para aquele dia era muito curto.

      Tinha visto na televisão que Jobe estava muito doente, por isso nas últimas semanas tentara fazer algumas poupanças, o que não tinha sido fácil, já que a infeção no ouvido a impedia de trabalhar no trapézio, e as gorjetas das mesas que servia tinham diminuído.