Maisey Yates

Uma aristocrata no deserto - Escondida no harém


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observou-a com atenção. Era uma mulher de estatura pequena e bem proporcionada.

      – Quero fazer um acordo contigo – declarou ela, depois de um longo silêncio.

      «Um acordo?»

      A raiva que Zachim sentira antes, momentaneamente eclipsada pela curiosidade, ressurgiu de repente.

      – Não me interessa – indicou ele. Sabia que Nadir estaria à procura dele e, se não o resgatasse depressa, escaparia pelos seus próprios meios. Depois, faria Mohamed Hajjar pagar por o ter sequestrado.

      – Ainda não ouviste o que te ofereço.

      – Se querias chamar a minha atenção, devias ter vestido menos roupa – troçou ele, percorrendo-a com o olhar impassível. – Muito menos roupa. Possivelmente, nada, embora não tenha a certeza de que tenhas o que é preciso para despertar o meu interesse.

      Era mentira, pois, por alguma razão, a estranha já despertara o seu interesse.

      – O meu pai tem razão – replicou, indignada. – És um cão arrogante que não merece governar o nosso país.

      – O teu pai?

      Era Farah Hajjar? A filha de Mohamed? Ena, ena, que interessante, pensou Zachim, sorrindo ao ver como ela fazia uma careta, lamentando a sua precipitação impulsiva. O chefe dos seus captores enviara-a para o convencer com os seus encantos? Se era assim, ia ter uma deceção porque nunca gostara das mulheres de Bakaan. Preferia as loiras.

      – Não pensei que o teu pai continuasse a considerar-se parte de Bakaan, é uma grata surpresa saber que é assim.

      – Ele… – começou a dizer ela e fez uma pausa para se acalmar. – Se aceitares que a nossa região se separe de Bakaan, deixar-te-ei ir.

      – Vais deixar-me ir? – troçou ele, com uma gargalhada.

      Farah respirou fundo.

      – A tua família já submeteu o nosso povo durante demasiado tempo – queixou-se ela, olhando para ele nos olhos.

      Isso não era algo que Zachim pudesse discutir. Não aprovava o modo como o pai governara Bakaan e até considerara a opção de se rebelar contra ele.

      – Eu não fiz nada às pessoas de Bakaan – afirmou ele. De qualquer forma, não podia deixar que a sua região se separasse do resto, porque as outras seguiriam o seu exemplo e o país acabaria desmembrado em pequenas tribos, incapazes de defender as reservas de petróleo sozinhas.

      – Também não fizeste nada por eles – replicou ela. – Embora tenhas voltado para comandar o exército há cinco anos.

      – E quando foi a última vez que o exército atacou a vossa tribo? – defendeu-se ele.

      – Queres dizer que és o responsável pelo tempo de paz?

      – Digo que, apesar de tudo o que dizes, foi o teu pai que semeou a semente da guerra com as suas ações. Não eu – indicou ele, vendo como a interlocutora empalidecia. – É algo que deves ter em conta, linda, antes de começares a fazer acusações ignorantes.

      – Só achas que sou uma ignorante por ser mulher. Sei muito mais do que pensa, Alteza! – exclamou, pronunciando o seu título com todo o desprezo de que foi capaz.

      – Uma mulher? Conheci doninhas que cheiravam melhor do que tu. Não penso que ganhasses nada a comercializar o cheiro. Não é nada atraente.

      Lançou-lhe um olhar de ódio.

      – Não tenho interesse em atrair-te.

      Zachim quase se riu com o tom desafiante. Não conhecera nenhuma mulher que não tivesse querido parecer atraente. Bons genes, uma conta no banco considerável e o seu título real eram uma combinação irresistível para as fêmeas.

      – Desata-me as mãos, pequena rebelde, e far-te-ei mudar de opinião – desafiou-a ele.

      Cerrando os dentes diante do seu tom provocador, Farah estava prestes a dar uma resposta cortante quando a porta da tenda se abriu. O tenente de Al-Hajjar entrou com um prato de comida. O seu cheiro fez com que o estômago de Zachim se queixasse.

      O recém-chegado ficou paralisado, obviamente surpreendido ao ver a filha de Mohamed.

      – O que estás a fazer aqui?

      – Posso encarregar-me disto – declarou ela, com frieza.

      – Não, não podes.

      Ambos começaram uma discussão entre murmúrios, que Zachim observou com avidez. Era óbvio que a mulher mantinha algum tipo de relação pessoal com o soldado. E que o homem estava, por alguma razão, aborrecido.

      Pensativo, o cativo fixou-se no rosto de Amir. Parecia não gostar do que a mulher lhe dizia, ainda que, ao mesmo tempo, não tivesse recursos para se impor. Que idiota. A única coisa que ela precisava era de um bom beijo para mudar de ideias.

      «Um bom beijo?»

      Zachim surpreendeu-se com a ideia absurda. Desde quando era aceitável que um homem beijasse uma mulher para a submeter? E quem ia querer beijar aquela jovem raivosa e fedorenta?

      Farto de prestar atenção à sua discussão, levantou os joelhos e continuou a esfregar as cordas.

      Depressa, a mulher ganhou a discussão e tirou o prato de comida das mãos do soldado. Tentando obter mais tempo, Zachim provocou-o, perguntando onde deixara a vara. O soldado ficou rígido. A mulher raivosa também.

      Ela virou-se como um gato selvagem, com os olhos a mostrar fogo e gelo.

      – Vamos, Farah.

      Quando a mulher se virou para o outro homem, Zachim sentiu pena do pobre tipo.

      – Só tenta provocar-te – indicou ela.

      Não era estúpida, observou Zachim, com admiração.

      – É perigoso – avisou o soldado.

      – E está preso – indicou ela, com impaciência. – Algo que não tenho planos de mudar.

      – Que planos tens?

      Fascinado com a tensão que havia no ambiente, Zachim parou de tentar rasgar a corda. Percebeu que a pergunta tinha um significado mais profundo do que parecia. Obviamente, a rapariga também percebeu, porque franziu o sobrolho.

      «Quer ir para a tua cama, linda, se é que ainda não esteve lá», adivinhou Zachim, em silêncio.

      – Dá-me cinco minutos para falar com ele – pediu ela, suspirando. – Encontrar-nos-emos na cantina.

      Um pouco mais calmo, o soldado assentiu. Lançou um olhar assassino a Zachim antes de sair, enquanto Farah o via a ir-se embora com um ar pensativo.

      – Tens problemas, gatinha? – perguntou Zachim, com descaramento.

      – Cala-te. E não me chames assim.

      – Pensei que querias que falasse.

      Ela baixou o olhar para o prato que tinha na mão.

      – O que quero é que comas.

      – Não tenho fome – declarou, enquanto o barulho do seu estômago demonstrava o contrário.

      – Qual é o sentido de morrer de fome?

      – Que amável por te preocupares…

      – Não me preocupo.

      A sua atitude desrespeitosa começava a ser irritante para Zachim. Por um instante, desejou que ela se inclinasse à frente dele como prova de submissão.

      – É melhor que o teu pai envie alguém com melhores dotes diplomáticos da próxima vez que quiser suplicar o meu perdão.

      «Bolas», pensou Farah. No entanto, queria fazer com que aquele homem se inclinasse e se ajoelhasse à frente dela. Tanto que quase tirou a pequena adaga