e nada ao mesmo tempo. Observava-a como se soubesse algo que ela ignorava. Com uma barba de três dias a sombrear-lhe o queixo, aqueles olhos davam-lhe um aspeto masculino e poderoso, apesar de estar preso ao chão. Fazia-a pensar numa cobra pronta para morder. Ou numa águia disposta a voar e despedaçar a sua presa. Usava uma camisa preta poeirenta que destacava os ombros largos e fortes, tal como as coxas que se adivinhavam por baixo das calças de ganga.
Farah vira as fotografias dele nas revistas e sabia que era muito atraente, mas, em carne e osso, era ainda mais impressionante. Embora isso não tivesse nada a ver com ela.
– Não vim para suplicar o teu perdão.
– Melhor – indicou, entrelaçando os seus olhares. – Porque, quando sair daqui, não tenciono perdoar.
Ela cerrou os dentes.
– Talvez precises de mais tempo para pensar em que situação te encontras – sugeriu ela, olhando para as cordas.
– Talvez.
O que tinha aquele homem que fazia com que não conseguisse parar de olhar para ele, interrogou-se Farah, irritada. Ficaram mais cinco minutos a entreolhar-se. Mas, no fim, ela rendeu-se. Aquilo não era um concurso.
– No entanto… – começou a dizer Farah e, de repente, reparou que ele apertava as mãos no regaço. Pensou que devia rever as cordas antes de se ir embora. A última coisa que queria era devolvê-lo ao palácio com chagas nos pulsos. – Não vais morrer enquanto eu estiver aqui.
– E eu que pensava que não tínhamos os mesmos planos – comentou ele, com um sorriso.
Era um homem perigoso, admitiu Farah, sentindo que todo o corpo se revolucionava ao vê-lo sorrir. A sua atitude serena, apesar de estar prisioneiro, demonstrava-o.
Decidida a não se deixar intimidar, baixou-se à frente do grande príncipe. Quando percebeu como ele a percorria com o olhar de cima a baixo, ficou paralisada, sem conseguir evitar que os mamilos endurecessem.
No meio de um silêncio tenso, apercebeu-se de que a respiração se tornara rápida e superficial e que sentia um formigueiro ardente por toda a pele. Não conseguia desviar o olhar dos lábios perfeitos do prisioneiro. E, possivelmente, ele apercebera-se, porque esboçou um ligeiro sorriso. Mais incomodada que nunca, deitou as costas para trás e pôs-lhe o prato à frente do nariz.
Zachim não olhou para o jantar. Os seus olhos continuaram fixos nos dela.
– Se queres assim tanto que coma, dá-me a comida à boca, gatinha selvagem.
«Gatinha selvagem?» O calor do seu tom não impediu que Farah se rebelasse. Mesmo preso e no chão, o príncipe ousava falar com um ar arrogante de superioridade.
– Não tenho nenhuma intenção de te dar de comer – avisou ela, furiosa.
– Bom, terei de me conformar com a fantasia – troçou, com um sorriso provocante.
Farah cerrou os dentes. Já deixara claro que não a considerava atraente, portanto, os seus comentários não podiam ser mais do que uma tentativa de se rir dela.
Por outro lado, no entanto, se alimentara camelos teimosos e poeirentos durante toda a sua vida, não podia haver muita diferença entre isso e alimentar aquele homem. De forma involuntária, pousou os olhos no seu corpo. Era difícil apreciar toda a magnificência do físico atraente naquela posição, embora a sua aura de poder e virilidade fosse inegável.
Depois, observou as suas mãos e a corda que o prendia pela cintura ao poste. Apesar da sensação de ameaça que lhe causava, não podia fazer-lhe nada enquanto estava amarrado daquela maneira, refletiu.
– Se te der de comer, comerás? – perguntou ela, erguendo o queixo com um arrepio de excitação.
O homem arqueou uma sobrancelha.
– Vais ter de te aproximar mais para descobrir.
Farah ignorou a forma como o coração acelerava com aquelas palavras. Era melhor acabar o quanto antes. Conforme se dizia, um homem com o estômago cheio ficava mais bem-disposto do que um homem faminto. Talvez assim fosse mais fácil toldar-lhe a razão.
Além disso, queria demonstrar algo. Não se tratava de mais do que de um jogo de poder e não queria que ele percebesse que a intimidava. Também não o fazia, exatamente, era apenas precaução instintiva ao aproximar-se de uma besta desconhecida.
Cerrando os dentes, Farah pôs os dedos no prato de carne. Quando se aproximou, o cheiro do príncipe misturou-se com o da comida. Em vez de cheirar como meias velhas, como teria sido de esperar, cheirava a homem, a suor e a calor.
Fazendo um esforço para sair da sua abstração, pegou numa porção de arroz e carne e inclinou-se para a frente para lha aproximar da boca.
Nessa posição, quase montada em cima dele, Farah não pôde evitar imaginar os dois nus e entrelaçados. Corada, baixou o olhar. Há um ano, vira numa revista a fotografia de uma mulher e um homem numa posição sexual. Então, sentira-se sobressaltada, mas nada comparável com a forma como se sentia naquele momento. Sempre pensara que o sexo era um meio para procriar, não para o prazer. Se era assim, porque é que a sua fantasia voara para aquela imagem da revista? Imaginou-o com tanta clareza que quase conseguia sentir o corpo musculado do príncipe por baixo dela e a pressão das suas costelas nas coxas. Imediatamente, um calor húmido apoderou-se dela.
Lutando para conter a reação animal do seu corpo, franziu o sobrolho ao ver que o cativo mantinha os dentes firmemente cerrados. Exasperada, levantou o olhar para os seus olhos, prestes a dizer todo o tipo de blasfémias, mas ele escolheu aquele momento para pôr a comida e os dedos dela na boca.
Assim que teve os dedos dentro da boca, Zachim percorreu-os com a língua. Ela sentiu o seu calor e a sua humidade e tremeu ao sentir outra onda de ardor líquido entre as pernas. Os mamilos endureceram. Nunca experimentara algo parecido. E não conseguia desviar o olhar dele.
Apenas consciente da sua própria respiração entrecortada, ficou hipnotizada com a forma como chupava e lambia os dedos, apesar de já não terem comida alguma. Então, ao perceber que estava apoiada nele, com os lábios separados por apenas escassos centímetros, corou e chegou-se para trás.
Antes de conseguir afastar a mão, no entanto, ele segurou-a pelos pulsos e lambeu-a entre dois dedos.
– Ainda tinhas um resto aí – murmurou o príncipe, num tom rouco.
Depois de a acariciar com a língua, deu-lhe uma dentada suave na palma.
Farah deixou escapar um gemido suave. Ele segurou-a pela cara, inclinando-se para ela, que se achava num estado delicioso de estupor. No entanto, no meio da sua abstração, uma voz de alarme ecoou na sua cabeça. A sua mão… Estava…
Meu Deus! Farah pousou os olhos nas mãos livres. Imediatamente, tentou afastar-se, deixando cair o prato de metal. Infelizmente, o homem precipitou-se sobre ela com a rapidez de um raio e deitou-a antes de conseguir defender-se.
Farah tentou gritar, mas ele empurrou-lhe o rosto contra o chão e cobriu-lhe a boca com a mão.
– Não, não. Não chames a cavalaria, linda.
Ela mexeu-se por baixo do corpo dele, sabendo que era inútil tentar escapar. Era um homem muito forte. E parecia cheio de raiva. Se não se tivesse deixado distrair pela sua masculinidade e pelas suas próprias hormonas, teria conseguido antecipar-se ao perigo, repreendeu-se.
Retorcendo-se, tentou chegar até à adaga que tinha na túnica. No passado, salvara-lhe a vida várias vezes contra serpentes e escorpiões. E aquele homem era o mais perigoso dos predadores.
Como se lhe tivesse lido o pensamento, o príncipe segurou-a pelos pulsos e imobilizou-os por cima da cabeça.
Irritada com a facilidade com que o fazia, Farah retorceu as mãos para o arranhar e, pelo menos, causar-lhe um pouco de dor.
– Isso, arranha-me, gatinha. Eu também o farei – sussurrou-lhe