Elizabeth Spann Craig

Empréstimo Mortal


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      Elizabeth Spann Craig and Mônica Martins De Mello

      Empréstimo mortal

Os mistérios da biblioteca do vilarejo, Volume 1

      Traduzido por MÔNICA MARTINS

      Published by Tektime, 2024.

      This is a work of fiction. Similarities to real people, places, or events are entirely coincidental.

      EMPRÉSTIMO MORTAL

      First edition. April 2, 2024.

      Copyright © 2024 Elizabeth Spann Craig and Mônica Martins De Mello.

      Written by Elizabeth Spann Craig and Mônica Martins De Mello.

      Capítulo Um

      Eu estava terminando de liberar o empréstimo de alguns livros de receitas para uma jovem mãe quando as portas da biblioteca se abriram e dois meninos encharcados passaram correndo pelo balcão de atendimento. Levantei imediatamente por conta do estado em que se encontravam.

      – O que está acontecendo? – perguntei.

      O menino mais velho estava tão ofegante que falou algo incoerente, e então o mais novo disse: – Tem um gato lá fora! Está no bueiro. Vai se afogar!

      – Pode ir. Eu atendo o balcão – disse o outro bibliotecário.

      Saí apressada, tentando acompanhar os meninos enquanto abriam a porta e saíam correndo para a chuva torrencial. Fazia algumas horas que chovia sem parar. Fiquei encharcada e senti um calafrio, observando a água correr em ondas pela calçada.

      – Onde ele está? – perguntei aflita. Era quase certo que um gato não seria capaz de se segurar na vala de um bueiro por muito tempo com a quantidade de água que estava jorrando. Ouvi um forte trovão e estremeci.

      – Aqui! Quando nossa mãe nos deixou, ouvimos um gato chorando – gritou o menino mais velho, que parecia estar recuperando o fôlego.

      O bueiro ficava em uma área baixa de um lado do estacionamento e a água escorria para dentro dele. A última coisa que eu precisava era que as crianças fossem arrastadas pela correnteza. – Obrigada, meninos. Qual o nome de vocês?

      Agradeci novamente quando eles se apresentaram. – Entrem e usem o telefone da biblioteca para ligar para a mãe de vocês e pedir que ela traga roupas secas.

      – De jeito nenhum! – disseram os meninos em coro.

      O mais velho, que parecia teimoso, acrescentou: – Ficaremos afastados, mas queremos ver o que vai acontecer.

      Ajoelhei com cuidado para espiar o bueiro de concreto. De fato, havia um gato laranja preso dentro do cano. Ele me olhou com os olhos verdes astutos e soltou um miado parecido com um lamento.

      Agora com a calça ensopada até os joelhos, me inclinei e estendi a mão para o gato. – Venha aqui, querido – sussurrei.

      Os gato olhou para a direita, miou outra vez, mas não se moveu.

      – Vamos, querido. Está seguro agora. Venha comigo. – Rastejei com cuidado para dentro do enorme bueiro, sentindo a água subir pelo meu corpo e mantive a mão firme na lateral do cano. Então parei e semicerrei os olhos enquanto olhava mais adiante. Havia um segundo gato dentro do cano preso entre folhagens, enquanto a água continuava fluindo cada vez mais rápido.

      – Algum de vocês pode pedir ajuda na biblioteca? Tem outro gato aqui – gritei. – E peçam a um dos bibliotecários para trazer a lanterna que está no depósito.

      Pelo que pude perceber de dentro do bueiro, os dois correram em direção ao prédio como se fossem uma pequena manada de elefantes.

      Continuei tentando convencer o gato laranja a se mover. – É por isso que você não sair? Seu amigo está aí? Você é um bom amigo, querido.

      O gato deu outro miado triste e senti um aperto no coração. Estremeci de novo e estendi a mão para os gatos. Nenhum dos dois se moveu.

      Ouvi as crianças correndo de volta e desta vez havia vozes de adultos. Wilson, o diretor da biblioteca, vinha apressado em minha direção, segurando uma lanterna e um ancinho. Ele sempre teve uma aparência distinta, com cabelos prematuramente brancos, óculos sem aro e o mesmo estilo de terno. Uma senhora idosa muito elegante, nossa cliente eventual, vinha logo atrás, segurando um guarda-chuva aberto e outro fechado.

      – Por que trouxe o ancinho? – perguntei.

      – As crianças disseram que os gatos estavam presos nas folhagens. O zelador achou que podia ser útil – respondeu Wilson, me entregando o ancinho.

      – Boa ideia. Embora eu ache que o ancinho vá assustá-los ainda mais. Vou ter muita dificuldade em alcançá-los do jeito que estão.

      – Use isto. Também é do zelador. – Ele tirou algo de dentro da capa de chuva e me entregou.

      – Perfeito! Me lembre de dar um beijo nele em agradecimento. – Apoiei o ancinho na perna enquanto pegava o par de luvas de couro.

      – Vou tentar protegê-los da chuva – disse a senhora com propriedade.

      Era tarde demais para isso, mas fiquei agradecida. Pelo menos os meninos, aparentemente não querendo ficar ainda mais molhados do que já estavam, se amontoaram com ela, sob o guarda-chuva. – Depressa! – implorou o mais velho.

      Wilson e eu olhamos para dentro do bueiro novamente. O gato laranja me olhou com tristeza e virou a cabeça para olhar para o outro gato e depois voltou a me olhar, com uma expressão desesperada.

      – Muito bem – falei, fingindo uma confiança que não sentia. – O plano é o seguinte… Vou tentar tirar o gato que está mais afastado primeiro. Acho que o gato laranja não vai sair sem o outro, mas como estão muito longe, vou usar o ancinho para puxar um pouco da folhagem.

      – Devagar – disse cliente, saindo debaixo do guarda-chuva para em seguida se abrigar outra vez ao ser era atingida pelas gotas.

      – Vou tomar cuidado – disse baixinho. Afinal, era apenas mais um dia normal na vida de uma bibliotecária em Whitby, Carolina do Norte.

      Abaixei e sorri, na esperança de fornecer algum conforto para os gatos antes de me sentir completamente ridícula. Será que gatos reconheciam expressões faciais? Em vez disso, disse apenas: – Muito bem. Aguentem firme!

      O gato laranja confiou em mim e se agarrou firme. O outro gato, ainda parcialmente visível, gemeu de angústia enquanto eu me arrastava bem devagar para dentro do bueiro, o máximo que podia e mais devagar ainda, estendi o ancinho para a folhagem. Finalmente, depois do que pareceram horas, consegui enganchar o ancinho atrás da pilha de galhos, palha de pinheiro, lixo e gravetos e puxar com cuidado na minha direção. Depois fiz o mesmo do outro lado, conseguindo trazer toda a sujeira alguns metros mais perto.

      Ainda assim, eu precisava me aproximar mais. Desisti de continuar agachada e deitei de barriga para baixo.

      – Posso segurar seus pés – disse Wilson com relutância, olhando para o terno impecável como se estivesse se resignando a mergulhá-lo na água do ralo. – Não preciso que um dos meus bibliotecários seja arratado pelo sistema de drenagem pluvial. – Ele pressionou os lábios. Trabalhei com vários diretores, mas nunca com um tão tenso quanto Wilson.

      – Acho que consigo dar conta – falei, imaginando cair de cara no chão durante o processo, considerando que eu não era uma pessoa com ótima coordenação motora. A essa altura, parecia uma boa ideia acalmar Wilson tanto quanto os pobres gatos. – Mas pode tentar me agarrar se eu começar a flutuar? Não acho que a folhagem me impediria de ser arrastada.

      Wilson se abaixou na entrada do bueiro, pronto para agarrar minhas pernas se fosse necessário. E, para piorar, a chuva ficou ainda mais forte.

      Rastejei em direção aos gatos, falando baixinho. Acariciei de leve o gato laranja, que ronronou, mas permaneceu firme no galho. Voltei a atenção para o outro animal, estendendo a mão. Seus olhos eram enormes, e eu estava preocupada que estivesse ferida e pudesse atacar em defesa. Tirei uma luva para fazer cócegas em seu queixo peludo e ela semicerrou os olhos em retribuição. Recoloquei a luva e continuei deslizando para a frente na água que jorrava.

      Quando