ligar agora – disse a senhora, a voz ansiosa.
Embalei a gata com cuidado em meus braços e comecei o estranho processo de retorno. Desta vez, sentei no chão do bueiro e avancei um centímetro por vez, com a água quase no peito. Virei para olhar o gato laranja, que agora parecia mais relaxado e feliz. Não pude deixar de sorrir quando ele deu um pequeno miado. Era encantador.
Quando consegui sair, os meninos e a senhora comemoraram. Wilson pareceu aliviado por não ter que entrar com um pedido de indenização por invalidez.
– O veterinário está a caminho – disse a senhora.
– Wilson, pode segurar esta gata enquanto volto para pegar o outro? Ela pode ficar na sala de convivência. Tenha cuidado, acho que a pata está machucada.
Ele fez que sim com a cabeça e a coloquei em seus braços. A gata estava com a respiração pesada.
– Vocês têm toalhas velhas ou qualquer coisa para deixá-la confortável até o veterinário chegar? E também para secar a coitadinha – perguntou a senhora.
Wilson sorriu com os dentes cerrados quando a gata malhada lhe arranhou o ombro em defesa quando ele a acomodou no colo. – Vou ver o que posso encontrar no armário dos produtos de limpeza.
Abri caminho outra vez em direção ao bueiro enquanto Wilson voltava para a biblioteca. O gato laranja estava alerta e parecia querer me ajudar enquanto a chuva continuava jorrando através do cano. – Você consegue… – sussurrei. Quando estendi os braços, ele se lançou sobre mim e aninhou a cabeça peluda encharcada no meu pescoço. – Oi, docinho – sussurrei. Então rastejei de volta com cuidado, para mais aplausos.
– Vou ver se Wilson encontrou as toalhas. Caso contrário, posso correr até a loja de utilidades e comprar toalhas de mão – disse a cliente e em seguida, saiu trotando, carregando o guarda-chuva.
O guarda-chuva não era mais necessário porque os meninos e eu estávamos encharcados até os ossos, assim como o gato laranja. Não poderíamos ficar mais molhados do que já estávamos. Os meninos estenderam a mão para acariciar o gato, que ronronou alto.
Corremos de volta para dentro do prédio e descobrimos que nosso progresso havia sido descoberto por todos na biblioteca. As pessoas observavam pelas muitas janelas do prédio e nos aplaudiram quando entramos. – Uma salva de palmas para nossos heróis de hoje: Noah e Mason!
Os meninos, encantados com os aplausos, fizeram reverências.
– Filmei o resgate no celular! Vou marcar a biblioteca e postar na internet – disse uma das clientes.
– Isso seria incrível! – Sorri em agradecimento. Nada como um adorável casal de gatos em um vídeo cheio de ação para movimentar para as redes sociais da biblioteca.
Wilson desenterrou o que pareciam ser toalhas de praia antigas e fez o possível para secar a gata ferida. Ele me entregou uma toalha e começou a secar o gato laranja, que ronronava em agradecimento.
– Posso ir buscar um pouco de ração de gato e uma caixa de areia – disse outro cliente que observava em silêncio perto da entrada.
– Seria ótimo. O veterinário está a caminho, mas não tenho certeza de quanto tempo os gatos precisarão ficar aqui. Mesmo que os dois precisem passar a noite na clínica, é bom termos um pouco de ração e areia.
Wilson ergueu as sobrancelhas quando o cliente se afastou. – Muito bem, Anne. Qual é o objetivo de tudo isso?
Me inclinei para fazer cócegas sob o queixo da gata malhada. A última coisa que eu queria era assustar Wilson, mas aquilo era uma excelente ideia. A Biblioteca Whitby seria um lugar incrível para um gato morar. Em vez disso, falei: – O que você acha? Ainda não tive a chance de pensar a respeito. Estava preocupada em tirar os gatos do bueiro.
Wilson me olhou por cima dos óculos enquanto terminava de secar o gato laranja. – Devemos nos concentrar em encontrar bons lares para eles.
– Por acaso você não estaria precisando de um gato de estimação? – perguntei de forma descontraída quando o gato laranja rolou de costas e ronronou.
Wilson não percebeu que eu estava brincando e empurrou os óculos para cima do nariz, impaciente e franziu a testa. – Não preciso de um gato. De jeito nenhum. Mas você provavelmente precisa, não é, Ann? Morando sozinha…
– Se eu quisesse ver o gato, teria que mantê-lo aqui. Passo praticamente todos os dias e finais de semana na biblioteca. Um gato seria bastante negligenciado na minha casa – bufei.
Wilson suspirou. – Está bem. Vamos fazer o seguinte… Deixamos o veterinário levar os gatos para a clínica e os traremos de volta para cá depois que estiverem medicados e postaremos fotos para tentar encontrar um lar para eles.
Estendi a mão e acariciei o gato laranja. – Perfeito. Vou tentar convencer os clientes que demonstrarem interesse, já que conheço a maioria deles.
Wilson se levantou, tirando o pelo de gato da calça, parecendo aliviado. – Está resolvido, então. Espero ter orçamento para pagar o veterinário.
Um dos outros bibliotecários abriu a porta do salão e apresentou a veterinária, que carregava duas caixas transportadoras de gatos. Wilson e eu nos apresentamos e gesticulei na direção da gata malhada: – É aquela que parece estar ferida.
A veterinária a examinou com delicadeza e assentiu. – A pata está quebrada. Vou precisar levá-la para a clínica. Ela se ajoelhou ao lado do gato laranja, o acariciou e conversou com ele enquanto o examinava. – Esse rapaz parece estar bem. É jovem e forte. Se eu tivesse que arriscar um palpite, diria que a gata ferida é a mãe dele.
Aquilo me surpreendeu. Havia algo nos animais que sempre me impressionou. – Ele não a abandonaria. Eu ainda não tinha visto a gata malhada e o gato laranja estava determinado a não sair até que a ajudássemos.
A veterinária se levantou e disse: – Parece um gato muito especial. Vou levá-lo também. Quero verificar se têm microchips de rastreamento e vaciná-los. E castrá-los, é claro, se ainda não tiverem sido esterilizados.
Wilson estremeceu um pouco, como se estivesse imaginando qual seria o valor da conta de todos os cuidados veterinários.
– Perfeito. Muito obrigada. – Fiz uma pausa. – Os gatos parecem muito apegados. Não tem problema separá-los?
– Acho que podem ser apenas as circunstâncias em que se encontraram. Normalmente, os gatinhos são separados de suas mães com cerca de dez a doze semanas de idade. O gato laranja é mais velho, provavelmente um ano a mais. Se te deixa mais tranquila, podemos reuni-los depois e ver o que acontece. E também monitorar como se comportam quando estão separados um do outro.
– Boa ideia. Muito obrigada. Não quero criar nenhum problema para essas doçuras.
A veterinária sorriu. – Não é problema. E não cobrarei pelo atendimento. Estou grata por você ter se arriscado e resgatado esses gatos.
Wilson agora parecia alíviado, o que me fez sorrir também.
– Tudo isso em apenas um dia de trabalho normal para um bibliotecária – brinquei. E eu não estava brincando. Nunca sabemos o que pode acontecer na biblioteca. Exceto que, na maioria das vezes as aventuras giravam em torno de uma copiadora emperrada e uma história entediante.
– Amanhã trago de volta o gato laranja – disse a veterinária, enquanto os colocava cuidadosamente nas caixas de transporte. – E talvez a gata malhada. Se ela estiver melhor.
– Tão rápido? – perguntei, franzindo a sobrancelha. Imaginei que os gatos precisariam de uma grande cirurgia, mas já tinha ouvido falar de pessoas que implantam marcapassos em consultórios, então…
– Ele vai ficar bem e estará dormindo por causa da anestesia. A gata malhada também. Precisam apenas de repouso. Tenho a sensação de que isso não será um problema aqui – acrescentou a veterinária, com um brilho nos olhos.
Wilson bufou. –