Elizabeth Spann Craig

Empréstimo Mortal


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hesitou. – Estava de passando de carro. Fui fazer algumas compras esta noite. Estive na farmácia, abasteci o carro e estava a caminho do supermercado quando vi os veículos de emergência e queria saber o que estava acontecendo.

      – Sinto muito. Deve ter sido assustador ver todas essa confusão e descobrir que se tratava da casa do seu irmão.

      Heather assentiu e depois esfregou os olhos com impaciência. – Não é tão assustador quanto o que aconteceu com você! O chefe me contou tudo. Você deu a volta na lateral da casa para ver por que ele não estava atendendo a porta e então… o encontrou.

      Assenti com a cabeça e tentei falar com naturalidade, embora sentisse um tremor na voz. – Isso mesmo. E embora eu não conhecesse Roger, lamento não ter tido a oportunidade de conhecê-lo. Ele parece ser um bom irmão.

      Heather ficou com o olhar distante e se virou por um segundo para observar a casa.

      – Sinto muito. Tudo isso parece uma loucura.

      Heather disse lentamente: – Parece mesmo. Não posso acreditar no que aconteceu. Whitby não é o tipo de cidade onde assassinatos acontecem. Não foi uma invasão aleatória. O chefe de polícia disse que após uma breve inspeção, não parecia haver nada fora do lugar. Não havia gavetas abertas, papéis espalhados no chão, ou qualquer sinal de que alguém estivesse vasculhando a casa.

      – Eles podem afirmar isso? Um homem que mora sozinho pode deixar algumas gavetas e armários abertos ou algo do tipo. Homens solteiros costumam ser um pouco desleixados.

      Heather negou com a cabeça. – A maioria dos homens sim, mas não meu irmão. Ele mantinha tudo muito arrumado. Ele sempre limpava a casa. Acho que nunca estive lá e vi uma caneca de café na pia. Mas você tem razão, a polícia não pode afirmar até que eu entre na casa e dê uma olhada. Talvez mais tarde ou amanhã, porque o chefe disse que precisam que tratar a casa como uma cena de crime agora. – A voz dela voz enfraqueceu ao dizer as palavras e uma expressão triste cruzou seu rosto.

      – Que coisa horrível. Sinto muito que você tenha que passar por isso.

      – É horrível, mas quero ajudá-los a descobrir quem fez isso. Afinal, se não foi um roubo que deu errado, deve ter sido alguém que ele conhece. Alguém com rancor. E há apenas uma pessoa em quem consigo pensar. Uma mulher chamada Mary Hughes.

      – É vizinha dele? Alguém conhecido? – Talvez os vizinhos estivessem na minha cabeça porque ainda estavam todos em seus jardins, nos observando boquiabertos. Não me surpreenderia se começassem a colocar cadeiras do jardim e comer pipoca.

      – Não, Mary era uma ex-colega de trabalho de Roger.

      – Eu nem mesmo sabia com o que Roger trabalhava. Era um dos assuntos que estaríamos conversando esta noite.

      – Ele era consultor de investimentos. Talvez não seja o trabalho mais fascinante para discutir durante um primeiro encontro – disse Heather, com uma risada curta. – Roger trabalhava nessa área desde que se formou na universidade. Aconselhava pessoas sobre ações e títulos, ajudava a planejarem a aposentadoria, entre outras coisas. De qualquer forma, ele e Mary não se davam bem. Roger me contou que ela havia sido preterida em uma promoção há algumas semanas. Foi ele quem assumiu o cargo.

      – Bem, é assim que as coisas acontecem nas empresas. Nem todos conseguem uma promoção. Se fosse assim teríamos um escritório repleto de diretores.

      – É verdade. Mas pelo que ouvi, ela levou a questão para o lado pessoal. Mary achava que estava mais qualificada para a promoção do que Roger e deixou isso bem claro. Fazia questão de deixar o ambiente de trabalho bem desconfortável para Roger.

      Eu podia imaginar a situação. Seria horrível ir trabalhar e ter que conviver todos os dias conviver com uma pessoa que sentia muita raiva de você.

      Heather acrescentou: – Então Mary foi dispensada de forma repentina. Você sabe como são as empresas. Ela agiu como se pensasse que Roger também era o culpado pela demissão dela. Pelo menos foi o que ele disse.

      – Deveria contar isso à polícia – falei, com cautela.

      Heather me olhou intrigada. – Você não acha que Mary pode ter matado Roger, acha? Só por estar chateada com algo que aconteceu no trabalho?

      – Não faço ideia. Não conheço Mary. Mas acho que é algo que a polícia deveria saber. Onde Mary está trabalhando agora?

      Heather fez uma careta. – Isso é parte do problema. Parece que ela está tendo dificuldades em se recolocar no mercado de trabalho. Conseguiu um emprego no salão de bronzeamento artificial. Quer dizer, não conheço Mary, mas a vi entrar lá quando passei de carro. Não há nada de errado em trabalhar no salão, mas depois de ter um emprego mais qualificado, me pareceu não ser a melhor opção. Além do fato de que ela nunca está bronzeada. A última vez que a vi no supermercado, há algumas semanas, ela estava pálida como sempre, tão pálida quanto eu – disse ela, com um bufo e fez uma pausa. – Roger também me contou que ela bebia muito. Foi como se o que aconteceu com Mary no escritório a tivesse levado a descer ladeira abaixo.

      Ficamos em silêncio por alguns minutos antes de Heather dizer em um tom mais alegre: – Preciso voltar a frequentar a biblioteca. Tenho o hábito de sempre estar lendo um livro, mas nos últimos meses não tenho feito isso, e tem sido uma sensação muito estranha. E talvez agora eu precise de algo para me distrair de tudo isso que está acontecendo.

      Assenti com a cabeça. – Sou como você. Me sinto estranha quando não tenho uma leitura em andamento. Costumo ler dois livros ao mesmo tempo, então normalmente não tenho esse problema.

      Heather fez uma careta. – Eu ficaria totalmente confusa se tentasse fazer isso. Misturaria os personagens entre os livros ou algo assim.

      – Acho que eu faria a mesma coisa se os livros fossem parecidos. Só funciona porque escolho dois livros de gêneros diferentes. Um romance e o outro uma biografia, por exemplo. Que tipo de livro você gosta de ler?

      – Ah, leio tudo o que ouço ser bom, mas tenho preferência por ler mistérios de assassinatos. – Heather estremeceu e deu uma risada curta. – Talvez eu precise tentar algo diferente, já que pareço estar envolvida em um mistério de assassinato na vida real.

      – Tem razão. Embora eu conheça um mistério de assassinato muito divertido. Experimente Assassinatos de Pega, de Anthony Horowitz.

      Ela sorriu. – Obrigada pela indicação. Vou dar uma passada na biblioteca em breve.

      Alguns minutos depois, Burton me puxou de lado para fazer mais algumas perguntas sobre os detalhes dos meus atos antes de chegar na casa de Roger, como quanto tempo esperei na porta e o que percebi quando cheguei no jardim dos fundos.

      Antes de sair, ele acrescentou: – Você disse que trabalha na biblioteca.

      Assenti com a cabeça. – Estou lá quase todos os dias. Na verdade, não deveria trabalhar tantas horas assim, mas adoro estar lá.

      – É que sou novo na cidade. Suponho que não seja o seu caso.

      – Morei em Whitby a maior parte da minha vida.

      – Que tal se conversássemos de vez em quando? Nada oficial. – Ele se apressou em dizer. – Mas gostaria de saber sua opinião sobre a cidade e os moradores. Você provavelmente conhece muitas pessoas por causa do trabalho na biblioteca. E tem acesso ao tipo de informação que pode ser valiosa para mim. Não quero cometer injustiças com ninguém em um caso grande como este, além de ser o meu primeiro caso de alta visibilidade aqui na cidade.

      Sorri. – Parece uma ótima ideia. Agradeço sua preocupação por ser novo aqui.

      – Não quero atropelar as coisas. Sei que cidades pequenas costumam desconfiar um pouco dos recém-chegados.

      – E o seu delegado? Ele conhece muitas pessoas na cidade?

      Burton revirou os olhos. – Digamos apenas que ele é bastante antissocial. Não é muito de falar. Arrisco dizer que talvez eu conheça mais pessoas na cidade