os adultos poderiam se interessar na biblioteca. Uma das coisas mais solicitadas foi uma aula de autodefesa.
Burton ergueu as sobrancelhas ao ouvir aquilo. – Em Whitby? Não vejo muita necessidade disso por aqui.
Meu sorriso foi um pouco mais tenso dessa vez. – Bem, foi uma sugestão minha, então talvez os resultados da pesquisa tenham sido um pouco menos fidedignos.
Burton me lançou um olhar avaliador. – Está preocupada com sua própria segurança? Entendo que trabalha em um local público, mas até agora Whitby parece um local bem tranquilo.
Respirei fundo. – É provavelmente o reflexo da minha história. Fui criada pela minha tia-avó aqui em Whitby porque perdi minha mãe quando tinha oito anos. Morávamos em Charlotte naquela época. Era cedo demais para perceber que o mundo não era um lugar tão seguro. – Estremeci, ainda me lembrando dos meses terríveis que tive após a morte de minha mãe e da gentileza de minha tia sempre que os pesadelos aconteciam.
Burton assentiu lentamente. – Sinto muito. É claro que isso afetará a maneira como você vê o mundo. Ficaria feliz em dar a aula. Pensando bem, seria uma boa maneira de conhecer mais alguns moradores, então quanto mais cedo melhor.
– Vou organizar o evento, então – falei. Talvez não tenhamos muito tempo para divulgar a notícia, mas se eu agendar algumas postagens nas redes sociais, ainda poderíamos conseguir um bom grupo.
Capítulo Três
Voltei para casa no meio do nevoeiro. Encontrei algo na geladeira para esquentar e comi sem me concentrar no que estava fazendo. Tudo que eu conseguia pensar era no que havia acontecido. Peguei meu livro, coloquei-o de volta na mesa e esfreguei o rosto com as mãos. As coisas ficariam ruins se eu não conseguisse me distrair com meu passatempo favorito. De repente percebi que precisava de algo mais simples. O que eu realmente precisava era dormir, mas com certeza não conseguiria fazer isso até me acalmar um pouco.
Peguei o controle remoto e liguei a televisão. Fazia algum tempo que não era usado e precisei tirar a poeira. Decidi assistir a algum tipo de reality show que atraísse a minha atenção e me acomodei para assistir o equivalente ao algodão doce na TV. Decididamente não nutritivo, mas cativante quando a chuva recomeçou a fazer barulho sobre o telhado.
Na manhã seguinte, estava bem lenta, enquanto me arrumava. Tive sonhos malucos a noite inteira com gatos, corpos e polícia e acordei sem me sentir descansada. Tomei cuidado especial ao me maquiar, imaginando que um corretivo bem aplicado poderia cobrir a maior parte das evidências da noite mal dormida.
Usei minha chave para abrir a biblioteca e acendi as luzes. O antigo prédio parecia um lar. Era uma linda e antiga biblioteca Carnegie. Foi construído no estilo renascentista grego e parecia um templo antigo. Os tijolos eram de cor amarelada e havia um parapeito baixo ao redor do telhado com enfeites na cornija. O centro do telhado era elevado e ostentava leões ornamentais. O interior era alegre e aconchegante, com poltronas confortáveis e lareira na área de leitura. Parecia seguro. Além disso, obviamente, todo o lugar cheirava a livros.
Não demorou muito para que Wilson chegasse, novamente vestindo um terno formal e logo perguntou: – Como foi seu encontro?
Estremeci. – Estou surpresa que a notícia ainda não tenha circulado, considerando o número de vizinhos que espiavam pelas janelas e que estavam nos jardins. Meu pretendente estava morto quando cheguei.
– O quê? – Wilson arregalou os olhos.
Expliquei o que tinha acontecido enquanto Wilson me olhava boquiaberto e balançava a cabeça. – Que loucura! – Ele passou a mão pelos cabelos brancos, deixando-os arrepiados em alguns pontos.
Balancei a cabeça, resistindo à vontade de estender a mão e arrumar o cabelo dele. – Espero que o delegado tenha conseguido entrar em contato com outros familiares de Roger ou que a irmã tenha conseguido. Odiaria que sua tia-avó Emily, viesse aqui esta manhã e me fizesse a mesma pergunta que você. Ela estava muito animada com o nosso encontro – acrescentei com tristeza.
– A irmã dele estava lá ontem à noite?
– Ela apareceu quando viu os carros de emergência. Acho que ficou assustada. De qualquer forma, foi horrível e não dormi muito bem esta noite, então vou precisar ligar a cafeteira na sala de convivência.
Wilson se moveu de forma desconfortável, um gesto que eu já conhecia e temia.
– Humm. O que aconteceu? – perguntei, me apoiando contra uma estante de livros. – Deixe-me adivinhar: a copiadora está emperrada. Estamos sem formulários fiscais? O banheiro feminino está interditado? Pior ainda: a cafeteira está quebrada? Pode falar que eu aguento.
– Pior – disse Wilson, em tom sombrio. – A nova bibliotecária infantil vai se atrasar por causa de uma emergência familiar.
– Sério? E você precisa que eu faça a hora da história infantil? Qual a programação de hoje?
– Mamãe Ganso – respondeu Wilson. Normalmente, as mães e as crianças eram presenteadas com um grande contador de histórias que usava fantoches e adereços para criar uma experiência mágica. Esta manhã, por outro lado, todos sofreríamos com minha interpretação, que envolvia preparação de última hora e uma bibliotecária cansada.
– Está bem. Eu cuido disso – concordei, tentando me convencer demonstrando confiança. – Desde que não seja a aula de artesanato para adultos, certo? Você lembra como foi da última vez.
– Os mosaicos? Sim. O conselho da biblioteca decidiu que você será proibida de dar aulas relacionadas ao programa de artesanato – disse Wilson, em tom seco.
Estremeci com a lembrança. Eu estava entusiasmada demais para pensar que poderia substituir o voluntário do nosso programa, que estava gripado. Resumindo, deveríamos simplesmente ter remarcado a aula. – Talvez um programa menos confuso teria sido melhor para eu ministrar. Fazendo guirlandas ou algo do tipo. A hora da história da Mamãe Ganso será fácil em comparação ao artesanato.
– As bolhas estão no armário – disse Wilson, com uma risada.
– Muito bem, bolhas. – As crianças estavam acostumadas a estourar bolhas no início e no final da hora da história como uma forma de interagirem. Eu só esperava que a máquina de bolhas estivesse em excelentes condições de funcionamento.
– É o evento das 9h – disse Wilson, incisivo.
– E essa é a minha deixa – falei, me apressando.
Depois de separar os livros e colocar a máquina de bolhas e os CDs na sala comunitária, fui até o balcão de circulação para ajudar um cliente que estava tendo problemas com a retirada. Vi um bilhete manuscrito sobre a mesa. Dizia: Para sua informação, os gatos pertenciam a Elsie Brennon. Infelizmente, ela faleceu faz pouco tempo e os gatos não têm um lar. Olhei ao redor da biblioteca enquanto entregava os livros à cliente. Avistei Linus Truman, um frequentador assíduo, olhando em minha direção antes de voltar a se concentrar na leitura. Apesar de Linus vir aqui todos os dias, ele nunca conversava com os bibliotecários. Fazia sentido que tivesse deixado o bilhete. Ele queria ajudar, mas não queria ser atraído para uma conversa.
Então chegou a hora da história. O incrível é que tudo correu muito melhor do que eu poderia esperar. Eu sabia que os livros funcionariam bem. Amei Brown Bear, Brown Bear, What Do You See? e The Very Hungry Caterpillar. As crianças eram adoráveis e a hora da história em si foi divertida, embora caótica, com uma sala cheia de pequenos cheios de energia. O único problema costumava ser as mães. Por alguma razão, este grupo específico era bem exigente, sem uma única mãe descontraída. Provavelmente por ser a primeira vez de muitas mães nesse evento. E se eu não estivesse bem preparada (como não estava desta vez) não apenas com livros, mas também com músicas e artesanato, as mães não hesitariam em comentar.
Antes de me juntar às mães e crianças que já enchiam a sala, olhei hesitante para a sala de informática. Com certeza, havia um pai com uma criança pequena, como aconteceu todos os dias desta semana. Ele ficava esperando