brincava com uma boneca no chão ao lado dele. – Oi, estamos prestes a começar a hora da história. Acha que sua filha gostaria de participar?
O rosto dele se iluminou. – Seria ótimo. Exceto que eu deveria estar procurando emprego. Olho os anúncios pela manhã e tento ir às entrevistas na parte da tarde.
– Sem problemas. Posso ficar de olho nela. – Estendi o braço para a menina, que me deu sua mãozinha no mesmo instante. Definitivamente não era o protocolo. A política da biblioteca determinava que cada criança deveria ser acompanhada por pelo menos um responsável. Mas assim a menina poderia fazer algo divertido enquanto o pai se concentrava em encontrar trabalho.
De alguma forma, desta vez consegui entrar no ritmo do programa. A máquina de bolhas funcionou sem problemas e as crianças dançaram encantadas, seus rostinhos voltados em êxtase para as bolhas flutuando suavemente ao redor. A garotinha da sala de informática olhou maravilhada para as bolhas, estendendo a mão com timidez, para tocá-las.
Eu também havia levado para a sala um antigo tocador de CD e presenteei o grupo com The Wheels on the Bus e Head, Shoulder, Knees, and Toes. Cantamos juntos entre os livros, o que lhes deu a oportunidade de se movimentar e não ter que ficar parados por muito tempo. É sempre bom relaxar quando se é criança.
Quando eu estava prestes a ler o terceiro livro, o maravilhoso Moo, Baa, La La La!, ouvi uma batida na porta de vidro. Ergui o olhar e congelei. Lá estava nossa simpática veterinária com duas caixas transportadoras e dois gatos.
– Aquilo são gatos? – perguntou uma mãe alta, os olhos semicerrados, no tom que alguém usaria para dizer que existem coiotes raivosos no prédio.
Capítulo Quatro
Estremeci. Aquela era uma mãe com quem foi difícil lidar em situações passadas. Ea uma defensora das regras e já havia reclamado no balcão de circulação sobre vários clientes que haviam adormecido nas poltronas perto da lareira e pessoas na sala de informática consumindo bebidas sem tampa.
Todas as mães e a maioria das crianças se viraram quando a ela perguntou sobre os gatos. Em resposta, liguei rapidamente a máquina de bolhas e o tocador de CD na esperança de criar uma distração, pedi licença e saí da sala. Felizmente, o pai que estava na sala de informática apareceu naquele exato momento para buscar a filha.
– Obrigado! – disse ele, a gratidão no olhar. – Encontrei um anúncio interessante, então vou ligar e ver se consigo uma entrevista.
– Que ótimo! Ela adorou as histórias. E se comportou muito bem.
Enquanto ele levava a filha embora, falei em voz alta: ‘Já volto’ para as mulheres na sala de leitura, sem ter certeza se isso era verdade.
– Como eles estão? – perguntei, me inclinando para espiar as caixas. Não pude evitar, a visão daqueles focinhos peludos me fez sorrir. O surpreendente foi que ambos pareciam muito tranquilos.
A veterinária sorriu. – Estão ótimos. O laranja é o gato mais amigável e descontraído que já vi. E a malhada é um doce. Eles quase me fazem esquecer que já tenho quatro gatos em casa. – Ela franziu a testa. – Tudo bem eu tê-los trazido aqui? – Ela olhou para o grupo de mães através da porta.
– Ah, não tem problema. Vamos manter os dois aqui até descobrirmos o que fazer. Um cliente acabou de me contar que pertenciam a uma senhora idosa que faleceu.
– Não encontrei nenhum microchip, mas ambos pareciam bem alimentados e saudáveis. E temos um bônus! Ambos parecem ser treinados para usar a caixa de areia.
– Ouvi dizer que a Sra. Brennon sofreu um acidente de carro há algumas semanas. Então eles estão sozinhos há pouco tempo.
– Do ponto de vista médico, ambos estão em ótima forma. Apliquei as vacinas e estão tratados. Acho que o dono ainda não tinha conseguido fazer isso. A mamãe gata, porque acho que ela é a mãe do gato laranja, vai precisar ter cuidado com a pata quebrada, mas conseguiu se firmar bem e não prevejo nenhum problema.
– Perfeito. Obrigada. Venha, vou abrir a porta da sala de convivência e os manteremos aqui. Quero deixá-los sair quando tiver oportunidade para ajudá-los a se ambientarem. Mas preciso encerrar a hora da história. Pode deixar as caixas que eu devolvo mais tarde? – perguntei, afastando uma mecha de cabelo dos olhos. Ótimo. Agora eu estava suando.
– Por mim, tudo bem, tenho uma tonelada delas. E mais uma vez, obrigada.
Voltei para a sala dando a todos um sorriso tímido. – Desculpem.
A mãe alta voltou a perguntar: – Ei, eram gatos?
Abri um sorriso como se gatos povoando a Biblioteca Whitby fosse algo comum. – Sim, eram gatos. Que tal ouvirmos outra música? E fazer mais algumas bolhas?
Agora eu podia dizer que a hora da história foi completamente arruinada.
– Podemos ver os gatos? – perguntou a mãe. – A propósito, meu nome é Lisa. Sei que já conversamos antes, mas acho que não me apresentei.
Fiquei admirada. Presumi que ela estava perguntando sobre os gatos porque queria reclamar da presença deles. – Vê-los?
Uma mãe loira, de estatura pequena disse: – Minha filha adora gatos. Você poderia trazê-los para a sala?
Neguei com a cabeça. – Sinto muito, mas eles tiveram alguns dias difíceis. – Fiz um breve resumo do resgate traumático dos gatos. – A veterinária acabou de trazê-los da clínica. Um deles está com a pata quebrada e precisa ficar de repouso.
Lisa disse em tom decisivo: – Sabe o que você devia fazer? Deixá-los ser gatos de biblioteca. Ou pelo menos um deles.
A mãe loira se virou e disse: – Isso seria tão legal. As crianças podiam afagar os gatos e ler histórias para eles. É algo viável em uma biblioteca, não é? É tão aconchegante. Um gato, um monte de livros e uma lareira. Parece o paraíso!
– Não acho que isso seja algo que a biblioteca esteja considerando no momento – falei em tom suave, mas senti um aperto no peito. Wilson era o chefe, mas eu esperava que ele mudasse de ideia sobre ter um ou dois gatos na biblioteca. Havia algo naqueles dois que realmente tocou meu coração.
– Então você está procurando um lar para eles. Bem, vamos considerar adotar pelo menos um deles, com certeza. Pobrezinhos. E também queremos adotar um gato adulto. São treinados para usar a caixa de areia? – perguntou Lisa.
Aquilo era algo que eu nem havia considerado… treinamento para usar a caixa de areia. E, do jeito que terminou o encontro às cegas na noite passada, os gatos foram forçados a sair dos meus pensamentos. Pelo menos tinha sobrado um pouco de areia e comida que um dos clientes havia trazido ontem à tarde.
– A veterinária disse que ambos usaram a caixa de areia enquanto estavam na clínica. Para ser honesta, não temos suprimentos, pelo menos não o suficiente. As últimas vinte e quatro horas foram bastante caóticas – admiti.
Lisa não fez nenhum julgamento sobre o meu comentário, mas entrou em ação. – Muito bem, vamos fazer o seguinte: Janine, pode cuidar de Sarah para mim, certo? Vou até a loja e comprar tudo o que está faltando.
– Não precisa fazer isso – falei, mas ela já estava deixando a sala em direção à saída da biblioteca.
A mãe loira, que aparentemente era Janine, levou a pequena Sarah para brincar com o filho nos computadores da seção infantil. A hora da história estava oficialmente encerrada, então voltei para ver os gatos.
Esperava que tivessem usado a caixa sanitária antes de saírem da clínica, porque eu queria deixá-los sair da sala para se acostumarem com o novo ambiente. Mas antes, imprimi uma placa de alerta na porta da sala para avisar que os gatos estavam soltos e para tomarem cuidado para não deixá-los fugir. Eu não tinha intenção de fazê-los vagar pela biblioteca enquanto estivessem em um lugar desconhecido e pudessem fugir.
Ajoelhei no chão, falando em tom suave. Ambos pareciam indiferentes à situação atual.