Barbara Cartland

Duelo De Corações


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que não. Se ele pretendia obter os cinco mil guinéus não iria querer a morte de Rosenberg nem desejaria ver as cartas desaparecerem. E a minha morte, quero dizer, se eu fosse preso e Conde nado à forca ele também nada lucraria. Só lhe interesso vivo.

      —Sendo assim, quem poderia ter assassinado Rosenberg?— Zara questionou.

      —Só posso deduzir que há alguém interessado em livrar-se de mim, mas nenhum nome me ocorre.

      —De que modo podemos ajudá-lo? — Adam Grimbaldi perguntou.

      —Ainda não adivinhou, Adam? Então seu cérebro não é tão rápido quanto o da Srta. Fry. Foi ela quem sugeriu que eu arranjasse dois ou mais amigos leais para jurar em um tribunal que eu estive com eles nas últimas duas horas. Preciso ter um álibi.

      —Compreendo, claro. Que tolo fui em não ter pensado nisso antes! Bem, milorde, conte comigo e com Zara. Podemos jurar que esteve conosco a noite toda. Primeiro assistiu ao espetáculo e depois ficou aqui no carroção conversando, bebendo champanhe e só foi para casa bem tarde. Digo mais: meus homens e suas esposas também estarão dispostos a jurar a mesma coisa.

      Lorde Brecon estendeu a mão para o amigo que a apertou. Sorrindo, ele agradeceu:

      —Muito obrigado. Adam. Eu tinha certeza de poder contar com você.

      —Está pedindo muito pouco de nós, senhor Conde— Zara manifestou-se, fazendo com as mãos um gesto para afastar dos ombros alvos os cabelos loiros.

      —Você é sempre tão generosa— disse lorde Brecon tomando a pequenina mão de Zara e levando-a aos lábios.

      —Se está tudo arranjado, milorde, acho melhor eu continuar minha viagem — observou Caroline com um suspiro.

      —E verdade, Srta. Fry. Foi egoísmo de minha parte ter pensado só no meu problema, esquecendo o seu— Lorde Brecon voltou-se para o Sr. Grimbaldi e disse—, Adam, onde poderemos conseguir uma carruagem de aluguer?

      —Há uma estalagem aqui perto. Mandarei um dos rapazes até lá. Aonde deseja ir, Srta. Fry?

      —Minha intenção é chegar a Dover — Caroline respondeu —, mas como já é tarde posso ir apenas até Maidstone onde, talvez…

      —Irá até Dover, Srta. Fry— lorde Brecon a interrompeu—, faço questão de providenciar para que o cocheiro a deixe em sua casa em segurança. Não se preocupe com mais nada.

      Passou pela mente de Caroline que ele, com certeza, estaria imaginando que o problema dela era o custo da viagem. Assim, não quis argumentar e agradeceu-lhe com um sorriso.

      Depois de ter mandado um rapaz ir a cavalo até a mencionada estalagem, Adam Grimbaldi abriu outra garrafa de champanhe. Enquanto bebia Caroline ficou por um instante olhando discretamente para lorde Brecon e dizendo a si mesma que ele era diferente de todos os homens que já conhecera.

      Sem dúvida, tinha traços lindos, mas não era a beleza que o tomava tão atraente. Havia uma expressão misteriosa e reservada no olhar dele. Era como se estivesse sempre se controlando ou se reprimindo. Até em seu riso faltava espontaneidade. Quanto ao sorriso, apesar de encantador, revelava ceticismo, talvez tristeza.

      «Ele esconde um segredo, tenho certeza», Caroline disse para si mesma, embora não pudesse explicar a razão de tal pensamento ter-lhe ocorrido.

      Embora já fosse tarde, Caroline não quis deixar o acampamento sem ver os animais. Quando o rapaz voltou para dizer que a carruagem chegaria dentro de meia hora, ela pediu ao Sr. Grimbaldi que a deixasse ver os leões, tigres e o canguru, sendo este último o mais nova aquisição do circo.

      Os quatro foram de jaula em jaula para ver os animais que es- tavam, em sua maioria, dormindo. Alguns piscaram com a luz das lanternas e os mais ferozes rugiram por estar sendo perturbados.

      —Apareça para ver um de nossos espetáculos— o Sr. Grimbaldi convidou Caroline—, em breve nos apresentaremos na feira de São Bartolomeu.

      —Pode contar com a minha presença — afirmou Caroline com entusiasmo.

      Notando esse interesse lorde Brecon sugeriu:

      —Se não conseguir novo emprego, Srta. Fry, procure Adam e ele lhe conseguirá trabalho.

      —É uma ideia tentadora, milorde, mas receio que meus pais não a aprovem — respondeu Caroline.

      —Acredito que não— lorde Brecon riu—, lembre-se, porém, que a senhora da alta nobreza com quem você trabalhava era mais feroz do que alguns animais selvagens.

      —Era, realmente— respondeu Caroline, não contendo o riso.

      O rapaz aproximou-se dos quatro para avisar que a carruagem já havia chegado. Caroline agradeceu ao Sr. Grimbaldi pela hospitalidade e despediu-se de madame Zara. Lorde Brecon acom- panhou-a até a carruagem ajudou-a a subir no veículo e cobriu-lhe os joelhos com a manta que encontrou sobre o banco. Foi em seguida falar com o cocheiro e fazer o pagamento pela viagem.

      —O trajeto é bem longo— ele disse ao voltar para despedir-se.

      —Talvez eu deva acompanhá-la Srta. Fry.

      —Oh, não, milorde, não é preciso— Caroline disse depressa.

      —Estarei em segurança e pela manhã chegarei a Dover. Nada tenho de valor que possa atrair a atenção dos salteadores de estradas. Pretendo dormir durante toda a viagem.

      —Se é o que deseja, faça boa viagem, Srta. Fry. Muito obrigado por tudo que fez por mim.

      —Não foi nada, milorde. Posso afirmar que vivi esta noite uma aventura emocionante.

      Enquanto falava lorde Brecon tinha os olhos fixos em Caroline que estava adorável debruçada na janela da carruagem, tendo o rosto iluminado pelo luar.

      —Adeus, doce Caroline… , não voltaremos a nos ver— ele disse—, mais uma vez, obrigado.

      Ela estendeu a mão que lorde Brecon segurou, mas não a beijou. Inclinando-se, seus lábios pousaram nos dela. Sem poder fugir ou protestar, Caroline recebeu o beijo, a princípio atônita, depois com raiva. Quando lorde Brecon ergueu a cabeça e afastou-se da carruagem o cocheiro açoitou os cavalos que partiram depressa.

      «Que ousadia! Como ele teve coragem de fazer isso?», Caroline se questionou, indignada.

      Homem algum jamais a beijara antes. Mas ela não podia negar que aquele beijo provocara nela uma sensação maravilhosa. Com as pontas dos dedos tocou os lábios suavemente querendo sentir o calor que ainda havia neles.

      Então um beijo era assim! Caroline sentiu novamente os lábios momos tocando os seus, com toda aquela veemência aliada a uma deliciosa suavidade que a deixara com o coração pulsando e a fizera sentir como se um fogo surgisse de sua garganta, quase a impedindo de respirar, para então espalhar-se pelo corpo todo.

      Assim era um beijo!

      Na escuridão da carruagem ela sorriu. De nada adiantava zangar-se. Uma noite de aventuras tão emocionantes merecia um grande final!

      Recostando-se no banco acolchoado tentou dormir, mas o sono não veio. Apesar do cansaço, tinha a mente desperta, ocupada por uma infinidade de perguntas.

      Por que, ficou se questionando, lorde Brecon dissera que ambos não se veriam novamente? Teria ele dito isso, achando que pertencendo ambos a círculos sociais tão diferentes seus caminhos não se cruzariam de novo? Ou haveria alguma outra razão menos simples do que essa?

      Mentalmente Caroline visualizou o belo cavalheiro. Como ele era atraente! E que personalidade! Lorde Brecon era, sem dúvida, o homem mais encantador que já conhecera. E também tinha a vantagem de ser mais velho do que os rapazes que a cortejavam e com quem dançava. Devia ter vinte e seis ou vinte e sete anos. Perto dele o Conde de Glosford, com seu físico magro, mais parecia um doente.

      Por