Barbara Cartland

Duelo De Corações


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para ver mamãe e o senhor também, claro, papai.

      —Por coincidência escrevi uma carta para você e ia remetê-la a Londres justamente hoje. Vamos à biblioteca.

      Na biblioteca Caroline sentou-se no sofá perto da janela que olhava para o mar. Esse era seu lugar favorito.

      —E tão bom estar em casa, papai— murmurou—, mas que notícia tem para me dar?

      —Trata-se de sua mãe— lorde Vulcan respondeu, com expressão grave.

      —Mamãe está doente?

      —Não exatamente, mas continua com aquela tosse importuna. Sir Henry Halford, médico do Rei, veio vê-la na semana passada e achou que uma mudança de ares lhe faria bem. Decidi passar um ou dois meses com sua mãe na Itália, na região do lago de Como. Partiremos na próxima semana, minha filha.

      —Oh, papai, se mamãe não está bem, devo acompanhá-la.

      —Sir Henry nos aconselhou a viajar sozinhos e despreocupados. Para ser sincero, faz tempo que desejo ficar a sós com Serena. Nós adoramos você e seus dois irmãos, mas os três são irrequietos demais.

      —Ora, papai, francamente!— Caroline exclamou e riu em seguida—, já sei que o senhor pretende ter uma segunda lua de mel. Mas não está um pouco tarde para isso? Afinal, o senhor e mamãe têm uma filha de dezessete anos e dois filhos grandes em Eton.

      —Sua mãe e eu não achamos que seja tarde nem nos sentimos velhos— o Marquês protestou—, na verdade, estamos ansiosos para fugir por algum tempo de nossas responsabilidades. Além disso, até agora não me foi possível levar Serena para fora do país. A guerra durou longos anos e quando terminou os filhos sempre interferiram em nossos planos.

      —Realmente… nós devemos ser mesmo uma amolação constante para vocês, não?— retrucou Caroline fazendo uma pequena careta.

      —Pelo contrário! Vocês são a nossa alegria! Mas admito que os três nos têm deixado apreensivos. A propósito, Caroline, você vai me prometer que não dará o menor aborrecimento à sua mãe.

      —Por que eu iria aborrecer mamãe?

      —Minha querida, Serena se preocupa demais com você devido a esse seu temperamento irrequieto e impulsivo. Para ser franco, sua mãe acha que se não estivermos por perto você certamente fará suas travessuras.

      —Papai! O senhor está sendo muito injusto!

      Lorde Vulcan ergueu a mão e seus olhos brilharam.

      —Não, filha. Se pensar bem há de reconhecer que nestes anos todos você tem-nos causado grande ansiedade. Agora que está sendo apresentada à sociedade esperamos que não nos dê mais motivos para preocupação.

      —Não darei— tomou Caroline com altivez.

      —Antes de partir, quero saber se você está com algum problema. Se estiver, confie em mim e não aborreça sua mãe. Fui claro?

      —Sim, papai.

      —Agora você vai me explicar qual o motivo de ter voltado para casa inesperadamente.

      Caroline hesitou. Olhou para o mar enquanto se questionava se devia ou não contar ao pai tudo o que acontecera. Decidiu, por fim, que se o Marquês ficasse sabendo da trama de sir Montagu iria ficar tão zangado que poderia até desafiar o patife para um duelo. Lorde Vulcan presava acima de tudo sua honra e a honra da família. Quanto ao crime cometido para incriminar lorde Brecon, ela não se envolvera e ninguém ficara sabendo de sua verdadeira identidade.

      Diante dessas considerações Caroline achou mais prudente esconder a verdade para não preocupar o pai nem deixá-lo furioso. Voltou-se para ele e respondeu com meia-verdade:

      —Só vim para casa por que algo me dizia que mamãe não se achava bem. Eu também estava com saudades...

      —Sua prima Debby veio também?

      —Não, papai.

      Lorde Vulcan franziu a testa.

      —Então você veio sozinha?

      —Sim, papai. Foi uma decisão repentina.

      —Caroline, você sabe que não tem permissão de viajar sozinha— lorde Vulcan zangou-se.

      Antes que o pai pudesse dizer mais alguma coisa Caroline levantou-se do sofá, correu para ele e o abraçou.

      —Por favor, papai, não se zangue comigo. Sei que fui imprudente, mas eu queria vir para casa e Debby é muito complicada. Ela iria querer alguns dias só para fazer a bagagem e organizar seus compromissos. Assim, saí de Londres ontem à noite e aqui estou. Perdoe-me, papai, mas eu estava ansiosa para ver mamãe e o senhor. Como vê, nada me aconteceu e está tudo bem.

      —Minha filha, você é mesmo uma garota traquinas— disse lorde Vulcan com um suspiro—, de nada adianta me afirmar que tudo está bem. Sei que algo está errado. Sinto isso no ar, mas não a forçarei a me fazer confidências, minha querida.

      —Prometo ser comportada. Não se preocupe comigo. E saiba que estou começando a perceber que meu querido papai é um enganador.

      —Enganador?— lorde Vulcan arqueou as sobrancelhas.

      —Exatamente. Enquanto vivi nesta casa eu o considerei o melhor pai do mundo, o mais belo e marido exemplar. Em Londres descobri que no passado o senhor foi um grande atirador, um jogador inveterado, incomparável condutor de carruagens e um conquistador que encantava todas as ladies do beau monde, jovens ou velhas. E verdade, não é?

      Lorde Vulcan não conteve o riso.

      —Quem lhe contou tais histórias, Caroline?

      —Diversas pessoas. Sempre que eu faço algo um pouco fora dos padrões normais há sempre alguém que diz: "O que se poderia esperar da filha de Justin?"

      —Caroline, meu diabrete, você está inventando tudo isto— o Marquês protestou, porém estava rindo.

      —Posso jurar que é verdade. O senhor nem imagina como sua reputação é extraordinária.

      —Não vou mentir para você, minha filha. Cometi alguns excessos na mocidade, mas isso foi antes de conhecer sua mãe. Depois que me apaixonei minha vida mudou por completo e tenho sido imensamente feliz com Serena.

      —Diga-me, papai, como alguém pode saber que está apaixonado?— Caroline indagou, pensativa.

      O Marquês olhou para a filha com muito carinho.

      —Minha querida, uma pessoa sabe que está apaixonada quando sente que é capaz de se sacrificar pela pessoa amada, quando não hesita em correr por essa pessoa qualquer risco e sente-se até disposto a morrer por ela.

      Caroline beijou o pai e deixou a biblioteca dizendo a si mesma:

      «Então o amor é assim!».

      CAPÍTULO III

      Após ter lido, pela segunda vez, a carta que tinha nas mãos, lady Edgmont dobrou-a, abaixou o lomhão e foi à procura de Caroline. Encontrou-a tocando espineta no salão prata.

      —Você recebeu uma carta da Condessa de Bullingham, não Debby?— Caroline perguntou ao ver a ver a prima e chaperon—, quando a correspondência chegou vi o envelope e reconheci a letra da madrinha. O que ela manda dizer?

      —Vim até aqui exatamente para falar-lhe sobre a carta— respondeu lady Edgmont em tom grave.

      Caroline suspirou.

      —Quando você me fala nesse tom sei que algo não vai bem. Diga logo do que se trata— pediu Caroline.

      Lady Edgmont, prima do Marquês de Vulcan em segundo grau, mulher de meia-idade, pequenina, de cabelos grisalhos, viúva, estivera casada durante alguns meses