falar certo e perder amigo, o conforto, um aborto, dos grandes que andam tortos.
Sou do sertão, em que nasci e fui criado, terra de gente boa, de trambiqueiro malvado, de velho cristão temente, de mulher inocente, com corpo adulto marcado, onde tem casa que tudo farta, noutra farta de tudo, desde água ao pão boiado.
Sertão de Lampião, de padre Cícero, de cantor consagrado, de político admirado, selva de marmeleiro, mufumbo, pé de galinha, rouxinol, concriz, andorinha, feira grande, dinheiro pouco, sertão de menino rouco, selva de sol e poeira, região de pau pereira é meu sofrido sertão.
Quem quer ter o que fazer vá morar no sertão.
Quem vê mais que o que pode, jura o homem vira bode, a onça, tal cordeiro, amiga de teu carneiro, terra confusa, de competição, que aceita e não aprova nenhuma corrupção, que mata e renova sentimento e aflição.
Em se perder num pensamento, vago como um calmo, um lago, um abismo, um vulcão, é sina de rima preguiçosa, feia cobra raivosa, que desbrava o meu sertão.
Quando a chuva não é escassa, floresce a terra, surge caça, foi-se fumaça, finda a guerra, da seca, uma cratera, desespero e sofrimento, tiram meu passa tempo, de um homem preso sem rédea.
Terra de mil horrores, de louvores, sim, eu sei, para os mais sofredores, alívio aos predadores que, como cruéis senhores, líderes mercadores, em terra de nomes fortes, são arquitetura de morte, graça e glória de lutadores.
Os serviços dos senhores, cobradores planejados, onde eu, bem atrapalhado, vejo vultos desertores, sem barulhos sem dores, sem lamento, sem lei, são fiéis devedores.
Qualquer ser, quando maltratado, vira fera em jaula arrebentada e, pela força do destino, segue bravo em desatino nas horas atormentadas.
Surge, até em rei menino, crença na violência, que a alma frágil tua, cultiva, homem injustiçado é cobrador de riqueza, de que não planta, não cultiva.
AS FRENTES EM ANOS DE SECA NO SERTÃO
A indústria da seca no Nordeste já foi tema repetido de estudo, questionado, repudiado, julgado, mas nunca punido. Até o início dos anos oitenta era frequente os períodos de seca com o consequente sofrimento do povo nordestino, especialmente dos áridos sertões, Cariri e Curimataú.
Além do estigma da seca tinha o castigo do homem pelo homem. Não era a natureza que maltratava o povo da terra quente e seca. O governo, federal ou estadual, se encarregava de agigantar a miséria humana de um povo.
No início dos anos oitenta a fome transformava gente em vulto, crianças em santos, governos em demônios ou em deuses. A falta do que comer e beber era a Via Crú cis dos exércitos de civis marginalizados pela miséria, onde mergulhavam em atos de saqueamento dos comércios e depósitos públicos de alimentos. Felizmente ninguém era preso ou espancado por tais ações, estava explícito o porquê de assim agir.
O governo enfim ficava “generoso, salvador e bem feitor do povo”. Instituía então as frentes de trabalho, as chamadas emergência, que se iniciava com um saco de feijão-preto, arroz furado, leite em pó, óleo e açúcar.
Em seguida havia o alistamento de homens, mulheres e maiores de 14 anos para trabalharem na construção de barreiros ou açudes em propriedades particulares, isso mesmo, nas propriedades dos amigos do governo, apoiadores do sistema autoritário que vigorara naquele tempo.
Os trabalhadores alistados não eram chamados de operários e sim de cassacos. O vencimento após trinta longos dias de fome eram algumas dezenas de cruzeiros. A condição de emergência perdurava enquanto não houvesse chuva no sertão.
As verbas federais eram administradas pelo exército brasileiro e pelos governos dos estados nordestinos em seca. A SUDENE, que seria a responsável pelo planejamento das frentes de trabalho, só servia para repassar parte das verbas para os estados, pois boa parte delas era desviada pelos políticos corruptos arquitetos e patrocinadores da indústria da seca.
Nos imensos barreiros a multidão de trabalhadores, senhoras, estudantes secundaristas e flagelados da seca cavavam o barro vermelho, transportavam em carrinho de mão até o “balde do açude”. A poeira era tanta que mal se via o que estava a poucos metros à frente. Gripe, pneumonia, alergia e tuberculose eram algumas das doenças que, junto à fome, afligia o sertanejo.
Um trabalho quase escravo, onde a sistemática ruptura do contrato era a chuva, esta, a única e certa indenização que o nordestino tanto esperava.
Em várias regiões havia o alistamento meeiro, o cassaco dava metade do vencimento ao dono da terra e não precisava trabalhar (só em casos de “fiscalização”).
Os políticos que promoviam essa cultura tirana de exploração do homem pelo homem são os mesmos que hoje criticam os programas sociais do governo do PT, onde o socorro social é destinado às crianças que frequentam escolas e sob os cuidados da mãe.
Esses programas sociais não resolveram a pobreza, mas diminuíram e muito a miséria no Nordeste e em outras regiões do País. Milhões de famílias sentem atualmente as mudanças que aconteceram em suas vidas, a cada dia de luta pelo melhor futuro.
As chuvas vieram, as emergências paravam, as correntezas levavam as paredes, ou baldes, dos açudes, não se juntava água e o nordestino continuava pobre, desempregado e as crianças com poucas escolas e de baixa qualidade.
ZUMBI DO BRASIL
Zumbi era homem valente, desafiava os fortes e foi o primeiro negro presidente, comum exercito rebelde e inocente, tanto trabalho deu a tanta gente, que eram contra ao mundo seu.
Ele foi para Alagoas, plantar, pescar um peixe, com tantos e tantos outros, de história fez um feixe, queria seu povo livre, como negara uns, como queriam os seus.
Imagino o sofrimento de tal povo em tormento, como sempre em que os senhores fizeram-se horrores e horrores seus, diante dos teus olhos, diante dos olhos meus.
Não se mede o pensamento de homens desbravadores, que como sina de lutadores, por amor o sofrer é meu, por amor o lutar é teu.
Por lâminas e com flores, derramaram sangue, vinho fértil e propício, pra se fazer o início do vício dos tempos meus, no fim dos tempos teus.
O LUTAR
Ser esperto e seguir pela estrada, remar ao certo, o irmão é um rubi da obra humana, proteger e amar o chão, uma busca a que logo nos traz a acolher e amar o nosso irmão, perdoar aos inocentes, fazê-los entender a razão, saber o caminho a seguir, almejar o cultivo do pão, é uma luta que logo nos faz acolher e amar nosso irmão.
Viver e lutar pela vida, sentir o fim da aflição, é a busca que logo nos faz acolher e amar o chão, sempre atento a coisas que surgem, em vez de fugir da razão.
REFORMA AGRÁRIA DO FUTURO
O português com pouca terra não dividiu a pequena área de sua nação Ibérica, adotou a reforma agrária na gigante e linda América.
Matou índio, cortou planta, roubou ouro, cortou garganta, com sua frieza histérica, tomou aqui toda terra, levou nas costas mil guerras, de sangue a terra ficou repleta.
Os tempos mudaram. Hoje já vão mais longe, duas grandes loucas nações traçaram o universo a compasso, revivendo as grandes navegações, pra molestarem outras terras, criando outras tantas guerras, frias, com virtuais frágeis civilizações.
Já se apossaram da triste lua, via homens, via satélites, encorajados por leis físicas, rompendo quaisquer topetes, se proclamaram do universo seus soberanos tietes.
Mas só a física não os sustentaram, se enganam, não são os únicos, imperadores reis do tempo, esquecem que além da vida, o retrocesso