Nestor Cobiniano de Melo Neto

Tempo, o ancião recontando a história


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reforma não será agrária, será falha, será imperfeita, será estreita por ser imensa, será eleita por ser densa, do jeito que o pastor pensa, quando em sua criação, do senhor virá, como benção, a escritura, a água e o pão.

       ENTENDER O SENTIDO DA HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

      O século XIX foi marcado por grandes nomes da ciência, de cujas mentes brilhantes brotaram feitos propulsores das grandes descobertas científicas. Trata-se de um leque de homens e mulheres que moldaram para sempre os avanços da ciência, em todas as suas bases física, química, biologia, matemática e mais. Possibilitadores fizeram História. A anarquia é fruto dos erros do homem, pelo revés de suas premeditadas, repetidas e desconcertantes atitudes de falso pastor?

      Sabendo dos acontecimentos na História da humanidade e, pensando na angustia de um povo, um ancião negativista alardeia em seu vago e confuso sentido da vida, entendendo como algo a perseguir o esperar do tempo, assegurando em palpite, diz:

      Seguirão dias em que o homem, com sua impotente e incerta caminhada, voltar-se-á contra as doutrinas dinásticas de sua criação, fantasiando um mundo moderno. Muitos dirão que não mais seguirão os costumes, agora mais que comuns, de uma elite sadicamente faminta pelo pão e o sofrer do pobre, absolutamente descrente e vulnerável a levantes inimagináveis.

      As mentiras, como requintes de protocolos oficiais, não ditarão mais as normas, incrédulas ao pensamento comum, nem se aceitarão mais suas doutrinas, agora vulgarmente desprezadas, tais quais folhas de velhos jornais, imprestáveis, insignificantes, envelhecidas à luz do presente.

      Para os sempre abnegados e traídos, não se admitirá governo que reja a riqueza de uma nação para oportunidades de uns poucos, em detrimento da miséria geral, caminhos tortuosos e norteadores do caos social, do anti-desenvolvimentismo equitativo. A penalidade da supremacia deletéria do estado será sua inteira implosão, vergonhosamente destroçada em imprestáveis arranjos, crucial a História dos fatos complexos, para a composição posterior das reais das controvérsias bases de formação de uma sociedade.

      O parasitismo político que aniquila a critica, a discussão de valores plausíveis e a liberdade do contraditório, se antepõe aos erros e excessos, quando ilimitadamente praticáveis. A lógica do ato de direito e em defesa do contraditório, em regra, comporta-se como aval indiscutido de igualdade de ações, o que diariamente não é de todo verdadeiro, pois não basta permitir uma existência material ou abstrata, por deveras, simplesmente, poder está contido, mas sim, dar plenas condições de confrontos ou acórdãos, se não assim sendo, transformar-se-á o meio social de pequenos e grandes, em meros infensos, gatos e leões, disputando a mesma jaula, com armas diversamente opostas, quantitativamente e ou qualitativamente disponíveis.

      O colapso dos sistemas organizados se deverá a forma como foram meticulosamente arquitetados. A mente fria e limitada do homem de ferro, nem de longe resiste ao calor da boina de fogo que veste a cabeça de sol na consciência dos excluídos.

      O reflexo da luz de novos rumos varrerá o campo de batalha que a humanidade cria, por mero canibalismo dentro da própria espécie, para saciar seu incessante apetite tirano e ilusório pelo poder. Um estado de graça pós-tragédia inconteste e terrena emergirá dias sombrios na visão de falsos outros profetas. Nem um ente destroçado pela covardia ou individualismo de outrem batizará o novo raiar do sol, que diferente do dia, nunca envelhece, prevalecendo em ciclos de trajetória fisicamente eternas à luz da natureza.

      Ao longo da história não é improvável o surgimento de mais um profeta do povo descrente dos seus. Seria, quem sabe, mais um hilário viajante ou alguém profundamente atingido pelas dores dos outros. Possivelmente que venha a descosturar todo o véu de escombros, em volta ao lixo daqueles que os produziu e que não têm a proeza de varrê-lo. Um novo conselheiro proibido, que imaginariamente fez pensar um iminente ancião de estrada, um desbravador de histórias, arado gigante, chamado Tempo. Um velho que nunca morre e transforma tudo que vê pela frente.

       ESTRELA DO UNIVERSO

      Correr atrás de seu destino é preciso, é consentido, não sei se o que sinto é amor, se é loucura, está me afadigando, não sei se tem cura, se isso nada quer, nada procura.

      Com porrete de madeira não se bate em um leão, com chicote de borracha se faz melhor ação, não se esqueça do porrete, guardá-lo na outra mão.

      Não cultivo planta daninha em terra de meu jardim, lá só quero as de nome, angélicas, papoula e jasmim, em minha vida uma estrela fica meio encabulada, por me ver fruto amadurecido, minha mãe, estrela amada.

      Por não querer de tudo um pouco, busco um muito daquele pouco, de peçonha desse mundo, que quer fazer mim mais um rouco, por gritar vagabundo.

      O todo que não é nada parece até quase tudo, por isso fico mudo, com a alma acordada.

       A BALAIADA

      O movimento começou em São Luiz do Maranhão, a primeira ordem foi a coroa dizer não.

      O homem que a liderou, não gigante nem anão, era de media estatura, trazia na compostura a rebeldia do povão.

      Quando logo disseminada, em feiras, vilas, cidades, ferreiros e lavradores, sapateiros e comunidades ao chamado aderiram e aos coronéis fingiram até então serem fiéis. A resposta chegar não demorou e, quando o fogo começou, da angustia à opressão, Antônio dos Anjos foi pego fazendo a revolução.

      O povo sentiu o gosto do desgosto do imperador, que ao pobre só ligou quando lhe cortou o rosto; o esforço dos frentistas foi algo de grandeza, onde todo plebeu entendeu, porém, a imagem da tortura, da invasão, quando a tropa imperial sacudiu o Maranhão.

      Em pouco tempo estava sufocada a rebelião, o castigo de cada um foi por seu feito marcado; Ferro, no ferreiro, sola, no sapateiro, chicote, no tropeiro, madeira, no marceneiro, e assim foi o fim do que seria melhor.

      Castigada e rasgada o prazer da rebelião, Antônio dos Anjos pagou com a vida pelo que fez, e em tão pouco tempo perdeu a vida, pelo que mais queria uma terra diferente, rebelde, ele pediu: irriguem essa semente, nessa terra fértil e quente, que ela “brotará um dia”.

       O RONCO DA ABELHA

      Esse barulho foi apenas demonstração do poder de mulheres, as negras de então, que nos cartórios fizeram justiça com as próprias mãos, inocentes; não sabiam conscientes; queriam, e, sem medo, nas ruas, protestaram, lutaram, pelas vidas dos seus homens, que para as senzalas, temeram, iam voltar.

      Esse movimento, um protesto popular, só de mulheres pretas, que acreditando em fofocas, quebrou cartórios e reinaram em suas malocas, em Campina Grande, precisamente.

       FALE MISTO DO QUE SENTES

      Gritos dormentes, por trás das montanhas, são fortes lamentos, de sedes estranhas, em todos os momentos, de dores tamanhas.

      Por trás das ruínas, há mil esquinas vestidas de flores, já nas colinas, águas cristalinas, são ecos de dores.

      Montantes perdidos há muitos vencidos choram o desgosto, e os adormecidos, não desmerecidos, enchem de água o rosto.

      Florestas e vales, agora cidades, ruínas hipertrofies, direitos sociais, sempre em lamas, culminam catástrofes.

      Derramo no ceio de sua consciência, a visão a dormência, da vida de agora, que em outra hora, não pedirá clemência.

      Fujo do tempo de ser o não certo, caminho e estou perto de no futuro chegar, pra estar com os sonhos que em noites tristonhas me pus a sonhar.

      Derramo em minh’alma tédio e calma de um corpo perene, que toca o rogo e sacode de melancolia serene.

      Fui ao alto da colina e enxerguei a montanha de sonhos, como a que sonhei