Andrea Laurence

Memórias ocultas - Perseguindo os sonhos


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parecesse um pouco diferente.

      Mas nada aconteceu. Examinou a foto em silêncio e continuou a percorrer o andar. O toque do telemóvel distraiu-o de repente. Ela continuou a explorar.

      – Esta casa de banho é enorme! É minha?

      – Tem um jacuzzi encastrado no chão?

      – Não.

      – Então, não... Esse é o dos hóspedes. O nosso está no quarto principal – disse ele rindo-se. Três semanas antes do acidente, ela tinha-se queixado de que a sua casa de banho era demasiado pequena. Ele tinha-lhe perguntado se pretendia dar uma festa ali e ela tinha-se chateado.

      Will voltou a prender o telemóvel no cinto e foi à procura dela. Encontrou-a no closet, com o olhar perdido. Começou a passar cabides um a um.

      – Dior. Donna Karan. Kate Spade. Esta roupa... é minha?

      – Toda. Há seis meses tiraste as minhas coisas daqui para teres lugar para a tua coleção de sapatos.

      Ela virou-se para a parede de sapatos que tinha atrás, como se não a tivesse visto antes. Abriu uma caixa de Christian Louboutin, tirou os mocassins que tinha postos e experimentou os sapatos de cabedal preto e sola vermelha.

      – Estão-me um bocado grandes – disse. Que estranho...

      – Bom, se os teus pés encolheram no acidente, de certeza que hás de desfrutar a substitui-los todos por outros do teu tamanho.

      Ela lançou-lhe um olhar incrédulo. Sentia-se um pouco instável com aqueles saltos de doze centímetros de altura, mas sorriu de orelha a orelha.

      – Um reforço no calcanhar deve servir. Não desperdiçaria estes sapatos por nada – voltou a olhar para a roupa. – Como é possível que reconheça todos estes desenhadores e compreenda o seu valor, mas a minha mãe seja uma total desconhecida para mim?

      Era uma boa pergunta. Ele não fazia ideia de como funcionava a amnésia. Abanou a cabeça.

      – Talvez o teu cérebro só se lembre do que era mais importante para ti.

      Cynthia virou-se para ele. A expressão maravilhada tinha-se esvaído do seu rosto.

      – Achas que preferia os sapatos à minha própria família?

      – Não sei – Will encolheu os ombros. – Não me fazias esse tipo de confidências.

      Ela tirou os sapatos e devolveu-os à sua caixa. Como se tivesse perdido todo o interesse pelo closet, saiu e desapareceu pelo corredor.

      Ele foi à sua procura e encontrou-a sentada no sofá, a olhar sem ver o horrível quadro moderno pendurado frente à mesa da casa de jantar.

      – Estás bem?

      – Sinto-me como se toda a gente andasse em pontinhas dos pés à minha volta. Como se houvesse um elefante no quarto que todos veem menos eu. Se te fizer algumas perguntas, respondes-me? Sinceramente?

      Ele franziu a testa, mas assentiu e sentou-se ao seu lado no sofá. Tinham mesmo que falar.

      – Tu e eu estamos apaixonados?

      – Não – respondeu. Ela estava a ser direta e ele também ia sê-lo. Adoçar a verdade não ia ajudar ninguém.

      – Então, por que estamos noivos? – os seus grandes olhos verdes pareciam desiludidos.

      – Não estamos.

      – Mas... – Cynthia olhou para o anel.

      – Estivemos apaixonados, há muito tempo – explicou Will. – As nossas famílias eram amigas e namorámos desde a universidade. Pedi a tua mão há dois anos, mas depois tu mudaste e fomo-nos distanciando. A tua família ainda não sabe, mas eu acabei o noivado mesmo antes da tua viagem.

      – Porquê?

      – Tinhas uma aventura. Na verdade, já não tínhamos qualquer relação. O teu pai e eu queremos lançar um projeto muito lucrativo para ambas as empresas. Ele prefere trabalhar com a família, de modo que continuei contigo, na esperança de conseguirmos ultrapassar os obstáculos. Quando descobri que tinhas uma aventura, não tive escolha. Mesmo que o projeto fosse por água abaixo, não haveria casamento. Disse-te que me iria embora e sairia daqui no final de outubro. Os planos mudaram depois do acidente, claro.

      – Vais ficar? – olhou para ele com uns olhos tão esperançosos que ele ficou com o coração apertado.

      De certo modo, parecia injusto castigá-la pelos pecados que pareciam ser de outra pessoa.

      – Não. Fico só até estares melhor. Depois anunciamos a rutura e eu vou-me embora, como combinado.

      Cynthia assentiu como se entendesse, mas a ele pareceu ver o brilho das lágrimas nos seus olhos.

      – Devo ter sido uma pessoa horrível. Sempre fui assim? Não me terias querido, pois não?

      – Gostava da mulher que eras quando nos conhecemos. Mas não da mulher na que te transformaste depois da universidade.

      Ela engoliu em seco e desceu o olhar. Tinha pedido a verdade e estava a ouvi-la, por mais dura que fosse.

      – Era agradável com alguém?

      – Com a tua família e as tuas amizades, em geral. E mimavas muito a tua irmã mais nova. Mas tinhas muito mau feitio se alguém te irritava.

      – Agora continuo a ser assim?

      – Não. Estás muito diferente desde o acidente. Mas não sei quanto vai durar. O médico diz que a amnésia é temporária e que qualquer coisa pode fazer-te lembrar-te de tudo de repente. A qualquer momento, a mulher que tenho à minha frente pode desaparecer.

      – E não queres que isso aconteça, pois não?

      Olhou para o rosto da sua namorada, tão familiar mas tão diferente. Os seus olhos verdes olhavam para ele, suplicantes, e viu neles manchinhas douradas em que nunca tinha reparado. Desejou descobrir outros detalhes que lhe pudessem ter passado desapercebidos. Perguntou-se se alguma vez teria estado apaixonado por Cynthia ou apenas pela ideia deles juntos. A miúda mais bonita e inteligente de Yale e o capitão da equipa de pólo. Ambos de famílias ricas. Eram o casal ideal.

      No entanto, naquele momento queria conhecer a mulher que tinha à sua frente. Queria ajudá-la a explorar o mundo e a descobrir quem era e quem queria ser. Seria piedoso dizer-lhe que lhe era indiferente que se lembrasse ou não, mas preferiu ser honesto.

      – Não, não quero.

      – Na verdade – disse ela, pensativa, – é muito estranho sentir que me falta uma parte de mim. Mas pelo que ouço, talvez seja melhor assim. Não me lembrar de nada e começar do zero...

      Isso mesmo tinha dito Alex, que podia ser uma segunda oportunidade. Will perguntou-se se teria coragem para lhe dar. Ela tinha-o traído e tinha abusado da sua confiança. O facto de não se lembrar mudava alguma coisa? Não tinha a certeza.

      – Podes sempre escolher – respondeu ele.

      – O que queres dizer?

      – A tua memória pode voltar a qualquer momento. Quando isso acontecer, podes escolher continuar a ser a pessoa que és agora em vez de voltares a ser a de antes. Podes começar de novo.

      – Sei que não gostavas de mim como pessoa, mas atraía-te fisicamente antes do acidente?

      – Eras uma mulher muito bonita.

      – Não fujas à pergunta – disse ela, olhando-o nos olhos. A irritação tingiu as suas bochechas.

      Tinha-se transformado numa mulher emocional que corava de ira e de vergonha, cujos olhos se enchiam de lágrimas de confusão e tristeza. Era muito melhor do que a princesa de gelo de outrora. Will perguntou-se como seria fazer amor com ela.

      – Não estou a fugir. Eras muito bonita. Todos os homens de Yale te desejavam, incluindo eu.

      –