Adriana Aparecida de Figueiredo Fiuza

Mulheres transatlânticas


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– Tata Nkosi Nambá, é a promoção da vida vivida e impedir que as pessoas sejam mortas violentamente. Portanto, é uma promoção de permanência da vida negro-africana como negro-africana, seja onde for. Inclusive, retomar conhecimentos como da presença de iku nas comunidades amefricanas, é retomar a festividade realizada com a morte dos que cumpriram com o seu projeto mítico-social realizados em África e se desprender dos rituais coloniais que carregam de tristeza e fim de sentido da vida para aqueles que são chave para o processo de identidade negra – as/os mais velhas/as.

      O filósofo, professor e homem de terreiro, Wanderson Flor do Nascimento, completa seu artigo promovendo uma provocação:

      Promover uma ikupolítica que seja um modo de resistência à necropolítica. Tarefa para realizarmos no coletivo, tanto como viver e buscar reconstruir um mundo comunitário, onde se possa viver e morrer para sermos raízes. (Nascimento, 2020:31)

      Obviamente, como diria Lélia Gonzalez, somente a negadinha pode promover a ikupolítica. A negadinha confluída com sua ancestralidade, vinda de coletivos gerados e gestados por mulheres negras, complementando a presença múltipla de idosos, jovens homens, crianças e pessoas brancas inclusive – a exemplo do que se encontra como narrativa sobre o quilombo dos Palmares. O que parece ser uma resposta às provocações dadas por Wanderson Flor do Nascimento, é o que Katiúscia Ribeiro responde dizendo:

      Rever a história desses territórios (terreiros, famílias de axé e quilombos) e seu formato de organização é compreender que as mulheres negras tiveram e têm papel fundamental na continuidade da vida e estabeleceram relações de equilíbrio para o respeito a outras formas de conceber o sagrado diante das bárbaras opressões e do terrorismo que sofrem ainda hoje essas comunidades. (Ribeiro, 2020:40)

      Por fim, a presença forte das mulheres contribui inegavelmente para a busca de igualdade de direitos, pela ação solidária, pela visão sobre a vida e sustentabilidade das comunidades e não dos indivíduos, como reza as concepções primeiras e filosóficas de nossa percepção, que é cósmica, de ser e estar no mundo em igualdade com todas as outras coisas.

      Assim, o gestar e gerar vidas parece o grande desafio em contraponto às violências seculares do Estado e dos efeitos do racismo e do sexismo que mulheres amefricanas sofrem em seus corpos e nos corpos comunitários de seus entes. E a arma mais potente sempre foi e será a luta pelo bem viver, num paradigma centrado na coletividade e na complementariedade, que se contrapõe ao sistema opressor sem ser violento, entendendo a diferença sem ser complacente e a generosidade sem ser caridoso. É o entendimento de ser pelos outros, sendo os outros por um – ser Ubuntu. Uma proposta comunitária, social e política contrapondo a morte e violência como resto colonial.

      As mulheres negras que vivem este embalo transatlântico têm a força transcendental de mobilizar, de continuamente construir e estabelecer um novo mundo de possibilidades de vivências. A matripotência está em jogo.

      Referências

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      2. Grifo da autora.

      3. Primeiramente uso o termo para fazer justamente esta ressalva que lembrando que esta condição de escravo é reformulada se aplicada para a colônia nas Américas, onde se organiza toda uma construção teológica-política para que seja justificada e promovida como política de Estado e naturalizada como cultura colonial – a desapropriação de humanidade negra.

      4. Aqui insiro o termo escravizada para demarcar linguisticamente a narrativa antirracista, que defende que esta é uma condição dada à população negra e não uma localização de sujeito.

      5.