meninas delles vê
Que meninas não tẽe fé.
Quem põe suas confianças
Em meninas sem assento,
Offereça o soffrimento
A duzentas mil mudanças.
Mostrão no ar esperanças;
Mas em seus olhos se vê
Como não tẽe n'alma fé.
Enganão ao parecer,
Porque no caso d'amar,
São mulheres no matar,
E meninas no querer.
Quem em seus olhos se crer,
Cem mil graças nelles vê;
Vê-las sim, mas não ter fé.
Amostrão-vos n'hum momento
Favores assi a mólhos;
Mas na mudança dos olhos
Se lhe muda o pensamento.
Em nada ja tẽe assento,
E o que mais nelles se vê
He formosura sem fé.
Sois formosa, e tudo tendes,
Senão que tendes os olhos verdes,
Ninguem vos póde tirar
Serdes tão bem assombrada;
Mas heis-me de perdoar,
Que os olhos não valem nada.
Fostes mal aconselhada
Em querer que fossem verdes:
Trabalhae de os esconderdes.
A vossa testa he jardim,
Onde Amor se desenfada;
He tão branca e bem talhada,
Que parece de marfim.
Assi he; e quanto a mim,
Isso vos nasce de a terdes
Tão perto dos olhos verdes.
Os cabellos desatados
O mesmo sol escurecem;
Senão que por ser ondados,
Algum tanto desmerecem:
Mas á fé, que se parecem
A furto dos olhos verdes,
Não vos peze, não, de os terdes.
As pestanas tẽe mostrado
Ser raios, que abrazão vidas:
Se não forão tão compridas,
Tudo o mais era pintado:
Ellas me tinhão levado
A alma, sem o vós saberdes,
Se não forão os olhos verdes.
O mimo desse carão
Nem pôr-lhe os olhos consente:
O ser liso e transparente
Rouba todo o coração:
Inda assi achareis nação,
Que lhe não peze de os verdes;
Mas não seja co'os olhos verdes.
Esse riso, que he compôsto
De quantas graças nascêrão,
Senão que alguns me disserão,
Vos faz covinhas no rôsto.
Na vontade tenho posto
Dar-vos a alma, se quizerdes,
A trôco dos olhos verdes.
Nunca se vio, nem se escreve
Boca co'huma graça igual,
Se não fôra de coral,
E os dentes de côr de neve.
Dou-me eu a Deos, que me leve!
Soffrerei quanto tiverdes,
Não me tenhais olhos verdes.
Essa garganta merece
Outras palavras não minhas,
Senão qu'he feita em rosquinhas
D'alfenim, ao que parece.
Eu sei bem quem se offerece
A tomar tudo o que tendes,
E tambem os olhos verdes.
Essas mãos são ferropeas:
Só o vê-las enfeitiça;
Senão que são alvas, cheias,
E tẽe a feição roliça;
Com que appellais por justiça,
Para com ellas prenderdes
Quem vê vossos olhos verdes.
A vossa galantaria
Matará a quem fallardes:
Tendes huns desdens e tardes,
Que eu logo vos roubaria.
Oh dou-me a Santa Maria!
Sou cujo de quanto tendes,
E tambem desses olhos verdes.
Tudo tendes singular,
Com que os corações rendeis,
Senão que rindo, fazeis
Covinhas para enterrar:
E para resuscitar
Tẽe força a graça que tendes;
Senão que tendes os olhos verdes.
Tudo, Senhora, alcançais,
Quanto o ser formosa alcança,
Senão que dais esperança
Co'os olhos com que matais.
Se acaso os alevantais,
He para as almas renderdes;
Senão que tendes os olhos verdes.
Cinco gallinhas e meia
Deve o Senhor de Cascais;
E a meia vinha cheia
De appetite para as mais.
Catharina bem promette;
Ora má! como ella mente!
Catharina he mais formosa
Para mi, que a luz do dia;
Mas mais formosa sería,
Se não fosse mentirosa.
Hoje a vejo piedosa,
Á manhãa tão differente,
Que sempre cuido que mente.
Prometteo-me hontem de vir,
Nunca mais appareceo;
Creio que não prometteo,
Senão só por me mentir.
Faz-me, emfim, chorar e rir;
Rio, quando me promette,
Mas chóro quando me mente.
Jurou-me