neste corpo vosso.
Ojos, herido me habeis,
Acabad ya de matarme;
Mas muerto volved á mirarme,
Porque me resusciteis.
Pues me distes tal herida,
Con gana de darme muerte,
El morir me es dulce suerte,
Pues con morir me dais vida.
Ojos, qué os deteneis?
Acabad ya de matarme;
Mas muerto volved á mirarme,
Porque me resusciteis.
La llaga cierto ya es mia,
Aunque, ojos, vós no querrais;
Mas si la muerte me dais,
El morir me es alegría.
Y así digo que acabeis,
O ojos, ya de matarme;
Mas muerto volved á mirarme,
Porque me resusciteis.
Mas porém a que cuidados?
Tanto maiores tormentos
Forão sempre os que soffri,
Daquillo que cabe em mi,
Que não sei que pensamentos
São os para que nasci.
Quando vejo este meu peito
A perigos arriscados
Inclinado, bem suspeito
Que a cuidados sou sujeito,
Mas porém a que cuidados?
Que vindes em mi buscar,
Cuidados, que sou captivo?
Eu não tenho que vos dar:
Se vindes a me matar,
Ja ha muito que não vivo:
Se vindes, porque me dais
Tormentos desesperados,
Eu, que sempre soffri mais,
Não digo que não venhais;
Mas porém a que cuidados?
Se as penas que Amor me deu,
Vem por tão suaves meios,
Não ha que temer receios;
Que val hum cuidado meu
Por mil descansos alheios.
Ter n'huns olhos tão formosos
Os sentidos enlevados,
Bem sei qu'em baixos estados
São cuidados perigosos;
Mas porém a que cuidados?..
Deixei-me enterrar no esquecimento de v. m. crendo me sería assi mais seguro: mas agora que he servida de me tornar a resuscitar, por me mostrar seus poderes, lembro-lhe que huma vida trabalhosa he menos de agradecer, que huma morte descansada. Mas se esta vida, que agora de novo me dá, for para ma tornar a tomar, servindo-se della, não me fica mais que desejar, que poder acertar com este mote de v. m., ao qual dei tres entendimentos, segundo as palavras delle pudérão soffrer: se forem bons, he mote de v. m.: se maos, são as glosas minhas.
Campos bem-aventurados,
Tornae-vos agora tristes;
Que os dias, em que me vistes,
Alegres ja são passados.
Campos cheios de prazer,
Vós qu'estais reverdecendo,
Ja m'alegrei com vos ver;
Agora venho a temer
Qu'entristeçais em me vendo.
E pois a vista alegrais
Dos olhos desesperados,
Não quero que me vejais,
Para que sempre sejais,
Campos, bem-aventurados.
Porém se por accidente
Vos pezar de meu tormento,
Sabereis que Amor consente
Que tudo me descontente,
Senão descontentamento.
Por isso vós, arvoredos,
Que ja nos meus olhos vistes
Mais alegria, que medos,
Se mos quereis fazer ledos,
Tornae-vos agora tristes.
Ja me vistes ledo ser,
Mas despois que o falso Amor
Tão triste me fez viver,
Ledos folgo de vos ver,
Porque me dobreis a dor.
E se este gôsto sobejo
De minha dor me sentistes,
Julgae quanto mais desejo
As horas que vos não vejo,
Que os dias em que me vistes.
O tempo, qu'he desigual,
De seccos, verdes vos tem;
Porqu'em vosso natural
Se muda o mal para o bem,
Mas o meu para mor mal.
Se perguntais, verdes prados,
Pelos tempos differentes
Que de Amor me forão dados,
Tristes, aqui são presentes,
Alegres, ja são passados.
Trabalhos descansarião
Se para vós trabalhasse;
Tempos tristes passarião,
Se algum'hora vos lembrasse.
Nunca o prazer se conhece,
Senão despois da tormenta:
Tão pouco o bem permanece,
Que se o descanso florece,
Logo o trabalho arrebenta.
Sempre os bens se lograrião,
Mas os males tudo atalhão;
Porém ja que assi porfião,
Onde descansos trabalhão,
Trabalhos descansarião.
Qualquer trabalho me fôra
Por vós grão contentamento:
Nada sentira, Senhora,
Se víra disto algum'hora
Em vós hum conhecimento.
Por mal que o mal me tratasse,
Tudo por bem tomaria;
Postoque o corpo cansasse,
A alma descansaria,
Se para vós trabalhasse.
Quem vossas cruezas ja
Soffreo, a tudo se poz;
Costumado ficará;
E