vos poder ver.
Não me atrevo ja,
Minha tão querida,
A chamar-vos vida,
Porque a tenho má.
Ninguem cuidará,
Que isto póde ser,
Sendo-me vós vida,
Não poder viver.
Coifa de beirame
Namorou Joanne.
Por cousa tão pouca
Andas namorado?
Amas o toucado,
E não quem o touca?
Ando cega e louca
Por ti, meu Joanne,
Tu pelo beirame.
Amas o vestido?
Es falso amador.
Tu não vês que Amor
Se pinta despido?
Cego e mui perdido
Andas por beirame,
E eu por ti, Joanne.
A todos encanta
Tua parvoice;
De tua doudice
Gonçalo s'espanta,
E zombando canta:
Coifa de beirame,
Namorou Joanne.
Eu não sei que viste
Neste meu toucado,
Que tão namorado
Delle te sentiste.
Não te veja triste;
Ama-me, Joanne,
E deixa o beirame.
Joanne gemia,
Maria chorava,
E assi lamentava
O mal que sentia:
(Os olhos feria,
E não o beirame,
Que matou Joanne)
Não sei do que vem
Amares vestido;
Que o mesmo Cupido
Vestido não tem.
Sabes de que vem
Amares beirame?
Vem de ser Joanne.
Se Helena apartar
Do campo seus olhos,
Nascerão abrolhos.
A verdura amena,
Gados, que pasceis,
Sabei que a deveis
Aos olhos d'Helena.
Os ventos serena,
Faz flores d'abrolhos
O ar de seus olhos.
Faz serras florídas,
Faz claras as fontes:
S'isto faz nos montes,
Que fara nas vidas?
Tra-las suspendidas,
Como hervas em mólhos,
Na luz de seus olhos.
Os corações prende
Com graça inhumana;
De cada pestana
Hum'alma lhe pende.
Amor se lhe rende,
E pôsto em giolhos,
Pasma nos seus olhos.
Verdes são os campos
De côr de limão;
Assi são os olhos
Do meu coração.
Campo, que t'estendes
Com verdura bella;
Ovelhas, que nella
Vosso pasto tendes;
D'hervas vos mantendes
Que traz o verão;
E eu das lembranças
Do meu coração.
Gados, que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendeis.
Isso que comeis,
Não são hervas, não;
São graça dos olhos
Do meu coração.
Verdes são as hortas
Com rosas e flores:
Moças, que as régão,
Matão-me d'amores.
Entre estes penedos
Que daqui parecem,
Verdes hervas crescem,
Altos arvoredos.
Vai destes rochedos
Ágoa, com que as flores
D'outras são regadas,
Que mátão d'amores.
Com ágoa, que cai
Daquella espessura,
Outra se mistura,
Que dos olhos sai:
Toda junta vai
Regar brancas flores;
Onde ha outros olhos,
Que mátão d'amores.
Celestes jardins,
As flores estrellas:
Hortelôas dellas
São huns seraphins.
Rosas e jasmins
De diversas côres,
Anjos, que as régão,
Mátão-me d'amores.
Menina formosa,
Dizei de que vem
Serdes rigorosa
A quem vos quer bem?
Não sei quem assella
Vossa formosura;
Que quem he tão dura
Não póde ser bella.
Vós sereis formosa;
Mas a razão tem
Que quem he irosa,
Não parece bem.
A mostra he de bella,
As obras são cruas:
Pois qual destas duas
Ficará na sella?
Se ficar irosa,
Não vos está bem:
Fique antes formosa,
Que mais fôrça tem.
O Amor formoso
Se