a formar uma imagem do assassino em sua mente. Ele havia atacado pela entrada. A morte foi rápida e ele não deixou marcas, não cometeu erros. As roupas e efeitos na vítima foram deixados em um local limpo, sem desarrumar o apartamento. Apenas o tapete foi movido, e havia poeira na área e nas bordas. Algo ali havia deixado o assassino com raiva. Se ele foi tão meticuloso em todos os outros detalhes, Avery imaginou, por que não limpar a poeira nas bordas do tapete? Por que não remover o tapete por completo? Por que não deixar tudo em condições perfeitas? Ele quebrou o pescoço dela, tirou suas roupas, colocou-as no cesto e deixou tudo em ordem, mas depois a enrolou em um tapete e a carregou como um selvagem.
Ela foi até a janela e olhou para a rua. Havia alguns poucos lugares onde alguém poderia esconder-se e observar o apartamento sem ser visto. Um local em particular chamou sua atenção: um beco estreito e escuro atrás de uma cerca. Você estava ali? Ela se perguntou. Olhando? Esperando o momento certo?
- Então? – O’Malley disse. – O que você acha?
- Temos um assassino em série em nossas mãos.
CAPÍTULO QUATRO
- O assassino é homem e é forte – Avery continuou. – Ele claramente destruiu a vítima e teve que carregá-la até a doca. Parece uma vingança pessoal.
- Como você sabe? – Holt perguntou.
- Por que se meter em tantos problemas com uma vítima qualquer? Nada parece ter sido roubado, então não foi um assalto. Ele foi preciso em tudo, menos no tapete. Se você gasta tanto tempo planejando um assassinato, tirando a roupa da vítima e colocando as roupas dela num cesto, por que levar qualquer item dela? Parece um gesto planejado. Ele queria algo. Talvez mostrar que ele era forte? Que ele poderia fazer isso? Não sei. E deixá-la num barco? Nua e à vista de todo o porto? Esse cara quer ser visto. Ele quer que todo mundo saiba que ele foi o assassino. Talvez nós temos outro assassino em série nas mãos. Qualquer que seja a decisão que você tome sobre quem vai cuidar desse caso - ela olhou para O’Malley, - você tem que decidir logo.
O’Malley virou-se para Holt.
- Will?
- Você sabe o que eu penso disso – Holt respondeu.
- Mas você vai fazer o chamado?
- Isso está errado.
- Mas?
- Como o prefeito quiser.
O’Malley virou-se para Avery.
- Você está pronta? – Ele perguntou. – Seja sincera comigo. Você acabou de sair de um caso de um assassino em série pesado. A imprensa te crucificou a cada passo. Os olhos vão estar em você de novo, mas dessa vez, o prefeito vai prestar uma atenção especial. Ele pediu especificamente por você.
O coração de Avery bateu mais rápido. Fazer a diferença como policial era o que ela realmente amava em seu trabalho, mas pegar assassinos em série e vingar mortes era o que ela ansiava.
- Nós temos vários casos em aberto - ela disse, - e um julgamento.
- Eu posso colocar Thompson e Jones nisso. Você pode supervisionar o trabalho deles. Se você pegar este caso, ele terá prioridade.
Avery virou-se para Ramirez.
- Você topa?
- Claro. – Ele assentiu.
- Estamos dentro - ela disse.
- Muito bem. – O’Malley suspirou. – Você está no caso. O Capitão Holt e seus homens vão cuidar do corpo e do apartamento. Você terá total acesso aos arquivos e total cooperação deles durante a investigação. Will, quem eles devem procurar se precisarem de informações?
- O Detetive Simms – ele respondeu.
- Simms é o detetive líder que você viu hoje de manhã, - O’Malley prosseguiu, - loiro, olhos escuros, durão. O barco e o apartamento serão cuidados pelo A7. Simms vai entrar em contato diretamente com você se encontrar qualquer pista. Talvez você deva falar com a família por agora. Veja o que você consegue descobrir. Se você estiver certa e isso for algo pessoal, eles podem estar envolvidos ou terem informações que podem ajudar.
- Estamos dentro – Avery disse.
*
Uma rápida ligação para o Detetive Simms e Avery soube que os pais da vítima moravam um pouco mais ao norte, fora de Boston, na cidade de Chelsea.
Dar essas informações às famílias era a segunda coisa que Avery mais odiava em seu trabalho. Ainda que ela soubesse lidar com as pessoas, havia um momento, logo depois de eles ficarem sabendo sobre a morte de alguém que amavam, em que emoções complexas se misturavam. Psiquiatras chamavam isso de “os cinco estágios do sofrimento”, mas Avery via aquilo como uma tortura lenta. Primeiro, havia a negação. Amigos e parentes queriam saber tudo sobre o corpo—informações que os fariam apenas sofrer mais, e não importava o quanto Avery dissesse, era sempre impossível para eles imaginar. Depois, vinha a raiva: da polícia, do mundo, de todos. A dúvida vinha em sequência: “você tem certeza que eles morreram? Talvez estejam vivos ainda”. Esses estágios poderiam acontecer todos juntos, ou poderia levar anos. Os dois últimos geralmente aconteciam quando Avery já estava longe: depressão e aceitação.
- Tenho que dizer - Ramirez devaneou, - eu não gosto de encontrar corpos mortos, mas isso nos dá liberdade para trabalhar nesse caso. Sem mais julgamentos e papeladas. Isso é bom, certo? Fazemos o que queremos e não temos que ficar atolados em fitas vermelhas.
Ele inclinou-se para beijar a bochecha dela.
Avery esquivou-se.
- Não agora – ela disse.
- Sem problemas - ele respondeu com as mãos para cima. – Só pensei, sabe... que nós fôssemos algo agora.
- Olhe - ela disse e teve que pensar muito nas próximas palavras, - eu gosto de você. Gosto mesmo. Mas isso tudo está indo rápido demais.
- Rápido demais? – Ele reclamou. – Nós nos beijamos uma vez em dois meses!
- Não é isso que eu quero dizer – ela disse. – Desculpe. O que eu quero dizer é que eu não sei se eu estou pronta para um relacionamento sério. Nós somos parceiros. Nos vemos toda semana. Eu adoro todo o flerte e ver você pela manhã. Só não sei se estou pronta para ir adiante.
- Uou! – Ele disse.
- Dan—
- Não, não. – Ele levantou uma mão. – Está tudo bem. Sério. Eu acho que já esperava isso.
- Não estou dizendo que quero que isso acabe – Avery o tranquilizou.
- O que é isso? – Ele perguntou. – Digo, eu nem sei! Quando estamos trabalhando, você só fala disso, e quando eu tento te ver depois do trabalho, é quase impossível. Você demonstrava mais sentimentos por mim no hospital do que na vida real.
- Não é verdade - ela disse, mas uma parte de si se deu conta de que ele estava certo.
- Eu gosto de você, Avery - ele disse. – Gosto muito. Se você precisa de tempo, tudo bem por mim. Eu só quero ter certeza que você de fato sente algo por mim. Porque se não, eu não quero perder meu tempo, nem o seu.
- Eu sinto - ela disse e olhou para ele rapidamente. – De verdade.
- Ok - ele disse. – Tudo bem.
Avery seguiu dirigindo, focando na estrada e na vizinhança, forçando a si mesma a voltar a pensar no trabalho.
Os pais de Henrietta Venemeer viviam em um complexo de apartamentos logo após o cemitério na Central Avenue. O Detetive Simms havia dito a Avery que os dois eram aposentados e estavam quase sempre em casa. Ela não havia ligado antes de ir até lá. Uma difícil lição que ela havia aprendido no passado era que uma ligação poderia alertar