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Formar-se en psicología


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Na época, o curso tinha seis anos. A antiga faculdade de Psicologia era o que hoje compõe o curso de Psicologia da Faculdade de Ciências, Filosofia... Nossa, agora eu já não sei mais. Ah, Filosofia, Ciências e Letras, é da PUC. E eram seis anos. Depois do meu ano, quem entrou em 1971 já fez o curso com a reforma, quando já totalizava cinco anos, mas no meu tempo ainda eram seis. A minha foi a última turma de seis anos da Faculdade São Bento, porque depois virou Faculdade de Psicologia. E tem isso: era um curso ainda com uma visão bastante relacionada a uma perspectiva positivista da ciência e da pesquisa. Era uma formação behaviorista forte. Inclusive, eu fui monitora na cadeira de comportamental.

      Quando eu estava no segundo ano, havia um monte de professores, uma gente muito ativa dentro do curso. Mas a junção com a faculdade, com o Sedes Sapientiae – que era uma faculdade, um curso, com uma tradição clínica –, essa junção da São Bento com o Sedes Sapientiae traz pra dentro do curso uma diversidade muito interessante, porque continuavam lá aqueles professores. A PUC sempre teve uma perspectiva muito forte a respeito da diversidade. Mas enfim: essa junção trouxe um olhar clínico mesmo forte pra dentro do curso, um olhar que convivia com a pesquisa. Os behavioristas, naquela época, nem faziam formação em Psicologia, porque a gente fazia até a metade do quarto ano e, quando o concluíamos, a gente era bacharel em Psicologia. E depois nós fazíamos os dois últimos anos, quinto e sexto, pra virar psicólogos. E os behavioristas faziam só até o quarto ano (eu posso estar errada aí: talvez até o quinto e último ano. Mas eu sei que eles faziam só a formação do bacharelado, não faziam psicologia). E a junção trouxe a clínica, trouxe essa cara mais de profissão. Então, o resultado foi uma junção de uma coisa mais profissão, mais clínica, com uma coisa de pesquisa. Eu me lembro que entraram professores, por exemplo, da fenomenologia. Eles eram muito presentes no curso. Tinha uma diversidade. Nós já tínhamos os psicanalistas, os junguianos, os kleinianos, já era uma coisa muito diversificada. Enfim: o meu curso é o velho.

      Mas por que que eu cito os dois? Porque, como alunos, nós fizemos um movimento para que, nos dois últimos anos, nós cursássemos junto com a turma nova. Então nós passamos, nós fomos um ano pra trás, né? Eram seis anos, mas no quarto nós fizemos de novo o quarto ano e o quinto com o pessoal que vinha já da reforma, que tinha um curso muito mais aberto, um curso politizado. Porque a PUC funcionou com o ciclo básico, que era muito interessante, foi uma experiência maravilhosa que a universidade fez. Havia, assim, disciplinas comuns em toda a PUC, para todos os cursos. Então, em uma sala de aula, às vezes tinha aluno do Direito, da Economia, da Psicologia, da Administração, da Fonoaudiologia. Eram cinco disciplinas básicas. E aí os alunos da Psicologia faziam três disciplinas, as chamadas específicas. Assim, essa experiência do ciclo básico trouxe diversidade para o ambiente universitário, algo fundamental no momento em que estávamos vivendo (eram os anos de chumbo, né?). Nós já tínhamos superado, passado a fase de uma ditadura mais tímida para uma muito firme, muito forte, muito violenta. Isso teve efeito no curso, na PUC: foi o momento de a Teologia da Libertação ir se desenvolvendo. A PUC foi um lugar de muita resistência e que tinha, portanto, uma perspectiva de formação muito progressista.

      Valéria: Como Silvia Lane e Martin Baró entram nesse processo de formação na PUC?

      Ana: Então, a Silvia era uma professora de Psicologia Social. Quando terminei a minha monitoria, em comportamental, eu estava no segundo ou no terceiro ano. Depois disso, eu saí dessa monitoria e fui pra monitoria de Psicologia Social, em que acompanhei a Silvia Lane. Eu fiquei muito tempo com a Silvia, porque ela foi minha professora, mas, como monitora, foi durante pouco tempo, porque ela foi convidada para abrir uma pós-graduação em Psicologia Social. Assim, ela foi embora pra pós. Mas eu fiquei com a equipe dela, com a qual eu passei a trabalhar. Mais pra frente eu iria me matricular na pós-graduação como aluna dela. A Silvia foi uma diretora muito interessante, muito inquieta. Ela fazia questão de produzir uma inquietação no curso. Nesse sentido, eu me lembro de ter sido representante dos alunos no conselho departamental. Ela sempre queria nos desafiar, ela desafiava aquele coletivo a pensar alguma coisa diferente no curso. Por isso, ela foi, de certa forma, a idealizadora dos núcleos. Eu diria até que a gente poderia dizer que ela efetivamente foi essa idealizadora, porque ela tinha a preocupação de que a prática dos estágios fosse sempre acompanhada pela reflexão teórica. Assim, ela trouxe essa preocupação e é o conjunto desses professores e alunos que vai inventar o que até hoje existe na PUC: trata-se dos núcleos, que consistem num estágio que você faz na instituição, acompanhado de disciplinas teóricas que subsidiam, que refletem, que questionam aquela prática. Nunca é uma prática solta. Muitos cursos têm os estágios soltos, isto é: depois que você fez todas as disciplinas teóricas, você faz o estágio. A PUC não. Ali, o estágio é acompanhado de disciplinas teóricas: são três, quatro disciplinas teóricas que o acompanham. E isso vem da preocupação da Silvia com essa ideia de que a prática nunca podia estar solta, porque o estágio não deveria ser pensado como uma aplicação da técnica, né?

      Valéria: E você percebe essa não dissociação do estágio com as disciplinas no curso da PUC ainda no momento atual?

      Ana: Então, eu diria pra você que eu percebo essa tendência ali até hoje, mas como concepção. Isso não quer dizer que ali se configure o espaço de um núcleo, onde as disciplinas teóricas estão rodeando a prática, proporcionado efetivamente essa integração. Mas os professores mais antigos sabem disso. Os professores se preocupam com isso, os alunos cobram isso, porque é apresentado para eles que aquelas disciplinas teóricas deverão subsidiar a prática, tanto do ponto de vista técnico quanto da reflexão crítica. Então, os alunos cobram isso dos chamados núcleos. E até hoje isso funciona desse modo: quando você apresenta a proposta de um núcleo, é preciso mostrar uma ação existente entre a prática de estágio que você está oferecendo e as disciplinas teóricas que você está propondo. Então, a Silvia está na origem disso, porque ela tomava a ideia de práxis como uma ideia central. E isso é algo que ela, como diretora, vai incentivar, produzindo ali com aquele conjunto o que poderia ser o formato. Quando os núcleos se instalam, ela já não é mais a diretora, mas o trabalho dela estava na origem disso tudo. Estamos falando, portanto, de um período – esses anos de 1970 até 1975 – que tem o curso velho, que é o meu, e o curso novo, reformado, que tinha que ser pensado, instalado. Porque além do desafio de se pensar um curso novo, havia o de integrar o Sedes Sapientiae bem como o curso que vinha dele, que virava faculdade de Psicologia, sob o comando da Madre Cristina. Ela já tinha uma perspectiva crítica e trabalhava muito na clínica, mas carregava aquela preocupação de como fazer uma clínica para a população. Se junto isso com a perspectiva dos behavioristas –que, na PUC sempre foram behavioristas muito críticos, behavioristas de esquerda–, isso tudo forma um caldo fantástico, resultando numa inovação muito positiva para o curso. A isso tudo ainda se junta outra força positiva, progressista, que era a que vinha da Igreja. A PUC tem como um de seus cursos obrigatórios, que já passou por vários nomes, uma disciplina de Introdução ao Pensamento Teológico (acho que esse é o seu nome atual). Na época, chamava-se Problemas Filosóficos e Teológicos do Homem Contemporâneo, abrangendo um grupo que não era obrigatoriamente constituído de padres, pois havia inclusive mulheres, filósofas, além do Mário Sérgio Cortela e da Terezinha Rios, que trabalhavam nessa disciplina. Desse modo, havia toda a influência do pensamento progressista que a Igreja alimentava naquele momento. O setor mais conservador que a gente tinha ali era a Psicologia Organizacional e do Trabalho, que contava com professores mais críticos, mas que, em seu formato, era conservadora. Enfim, nós tínhamos uma formação bastante inquieta, bastante questionadora. O próprio ambiente da universidade era um ambiente que ajudava. Por isso, eu sempre digo: meu curso foi muito bom, mas a minha universidade foi muito melhor! Porque eu fiz teatro, eu fiz coral, eu participei do movimento estudantil, eu participei da fundação do centro acadêmico de Psicologia. Nós tínhamos uma atuação de todos os estudantes da universidade, o que formou um fórum de articulação dos estudantes dos vários cursos. O único que não participava era o centro acadêmico do curso de Direito, que era de direita, mas ainda assim participavam os estudantes de esquerda daquela faculdade. Então, tínhamos um grupo assim, bastante diversificado, de estudantes de vários cursos que faziam um movimento estudantil. E como o movimento estudantil era muito cerceado, muito visado e eu era mais